Anormal

Tem algumas coisas acontecendo no mundo... não, tem muita coisa! E eu preciso gritar, chorar, me indignar, eu preciso estar lá todas as vezes.

Se eu calo, a cabeça baixo e o choro conformo, não seria eu a luta, a resistência, a manifestação de fé e coragem, o poder de transformar a realidade.

Sei que é importante colocar o dedo na ferida e conhecer a intensidade da dor, por isso absorvo tudo, exagero no sentir vazio, frio e sentir calafrio, vivendo na pátria mãe que me pariu.

Confesso não perdi a paz, estou perdendo o sossego por não saber mais onde acenar meu lencinho branco, e esse sentimento cresce e vai me afoitando, a ponto de tudo pensar fazer diferente.

Já não estou acordada, estou eletrizada, e dos dias não vislumbro mais manhã, tarde ou noite, e enquanto vejo as horas passar sinto açoites por ser tocada por tragédias.

Meu desejo maior ecoa vida no coração, mas continua gritando por justiça, que seja na lei dos homens introduzida compaixão! Que miséria é essa que não se vence com um prato de comida?!

Assumo desequilíbrio, assumo tristeza, assumo meu sorriso molestado, declaro a fragilidade, mas não possuo a aspereza de ficar estática diante desse assombro que se tornou o presente.

Constato-me anormal, dei adeus aos padrões de certo e errado tem bastante tempo, e o que compreendo nesse momento é que o grito é meu, desse eu humano desgovernado, alvejado de penúria, retaliando vida e destino, por não aceitar essa autópsia de identidade que está reduzindo gente a número.

Sou anormal, visceral, de correr sangue nas veias e suor pelo corpo, sou filha, sou escolhida, amante dos sonhos, a própria cura das minhas feridas, sou fecunda, sou instinto, amor de dentro para fora escancarado, sou eu afetada, convivendo com a barra pesada, sou sim e sou não para ser ouvida minha voz razão, eu dou a vida dimensão e valor quando anormal eu sou.

CarlaBezerra