NÃO JULGUE!

Passo quase que diariamente diante daquela casa e ela me traz lembranças de situações que me trouxe a escrever essa crônica.

A casa em si nem tem relação com a história mas quem eu sei que morou nela, ou ainda mora, leva-me a fazer essa ponte ligando uma coisa com a outra.

Tem coisas que só o tempo nos mostra e tenho a convicção que não mostra pra todo mundo, talvez se morra antes dessa percepção, ou quem sabe mesmo vivendo como Matusalém, não se perceba.

Falo dos julgamentos que fazemos, muitas vezes até de pessoas que estimamos ou amamos.

Entrando na minha atuação profissional, quando cheguei pra morar e trabalhar nesta minha cidade, entre muitas outras coisas semelhantes ou não, deparei com uma empresa familiar, que teve a sua importância reconhecida no seu ramo de atividade, em processo adiantado de falência, que só a cegueira, fingida ou não, de seus proprietários, não via.

Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sabia que não haveria retorno, que a desistência seria o melhor caminho, mas havia uma persistência, creio que agarrada em manter uma tradição sem nenhuma base de sustentação.

Nosso trabalho, meu e de outros colegas, nos mostrava o quanto de procedimentos inúteis, por força de lei, fazíamos. Penhoras em cima de máquinas defasadas, já penhoradas em outros processos, coisas que no fundo só valiam como sucatas.

Disse tudo isso para justificar o meu argumento sobre os julgamentos que fazemos.

O genro de um dos sócios proprietários, era um crítico ferrenho do sogro. Não o perdoava jogando sobre ele a culpa da situação da empresa. Era desagradável no seu jeito de falar.

A empresa acabou e esse genro se aventurou nos seus próprios negócios. Faliu da mesma forma que a empresa do sogro. Não teve a mesma dignidade do sogro, mentia, se escondia e culpava todo mundo pelo seu fracasso.

A razão da falência da empresa do sogro pode ter sido por má administração, mas o avanço das tecnologias e a falta dos investimentos que precisavam ser feitos para acompanhá-las, certamente foi a grande causa.

Muitas vezes achamos que se tivéssemos a mesma situação de alguém que se deu mau em uma certa coisa, teríamos sucesso, mas a vida tem seus caprichos e nos mostra o quanto somos falíveis.