GOSTOS PERDIDOS
Tanta gente deixou de sentir o gosto da manga, do feijão, da voz.
Deixou de sentir o gosto da batata, do almeirão, da saudade.
Deixou de sentir o gosto do algodão-doce, do mel, do medo.
Deixou de sentir o gosto da couve, do café, da solidão.
Deixou de sentir o gosto da pinga, do morango, da fé.
Deixou de sentir o gosto do pastel, da mandioca, do talvez.
Deixou de sentir o gosto da azeitona, do gelo, da insensatez.
Deixou de sentir o gosto do frio, do peixe, da ousadia.
Deixou de sentir o gosto do pinhão, da cenoura, do voar.
Deixou de sentir o gosto da pele, da chuva, da teimosia.
Deixou de sentir o gosto do arroz, da banana, da paixão.
Deixou de sentir o gosto do coco, da uva, do sonho.
Deixou de sentir o gosto da couve-flor, da noz, do vento.
Deixou de sentir o gosto da ostra, do sorvete, da alegria.
Deixou de sentir o gosto do tomate, da abobrinha, do pecado.
Deixou de sentir o gosto do vinho, da garapa, da derrota.
Deixou de sentir o gosto do pão, da salada, do perdão.
Deixou de sentir o gosto do croquete, da cenoura, do suor.
Deixou de sentir o gosto da água, da ameixa, da vida.