MARIMAR, TEMPO DE SAUDADES !

MARIMAR, TEMPOS DE SAUDADE !

Hoje, um povo inteiro -- mais de 200 MILHÕES -- não lembra de época alguma em sua existência com tempos de tanta angústia, de sensação palpável de fim, de morte, de desgraça. Quem viveu como pessoa comum durante a Ditadura raramente percebeu um clima assim, apenas jornalistas, os militantes das Esquerdas, um ou outro sacerdote mais ousado perceberam o tamanho do perigo que rondava sobre (e no meio da) nossa Nação. Voltamos a esse tenebroso tempo, talvez só igualado pelo momento em que o Brasil concordou em combater o Nazismo (1943/44) e a ameaça de bombardeio de algumas capitais deixou de ser hipótese.

Esse militar tosco e louco que 53 MILHÕES puseram no poder nos traz essa sensação de desespero sem saídas. Pior: com a sombra do Fim pairando sobre quase todos e um "lockdown" que, se mata o vírus, nos ameaça de morte, ao nos impedir de buscar recursos para nos alimentar e à família. Em Belém boa parte do povo "brincou" com a gravidade da"gripezinha" e os que atenderam às sugestões de precaução "pagam juntos" agora, com as soluções tardias de prefeitos e governadores. Quem foi mesmo que sugeriu -- com palavras e gestos -- que os cuidados eram coisa de "maricas", "mimimi" de "boiolas" ?!

Esse momento de flores & caixões me trouxe à lembrança "MARIMAR"... não, não é cidadezinha, nem hotel ou bar de peixe assado à beira da praia. Trata-se de meu amigo professor de violão MÁRIO MARQUES, um boêmio que quase não bebia mas que o cigarro apressou-lhe a partida. Mário tinha uma elegância natural, um porte pouco comum em pessoa nascida do povo. Conheci sua família e não vi em quem teria se espelhado para manter aquele ar de príncipe desterrado, que era um charme e encantava qualquer amigo.

Era "Rosacruz" (isso não se revela, mas mereci dele tal confidência) e provavelmente "seu modelo" se encontraria numa "Loja Maçônica" qualquer. Mário sabia tudo de violão e acabou por "empresariar" nossa dupla meio sertaneja "Cultura Nossa", nos fazendo tocar em barzinhos chinfrins do bairro Guajará, em troca de... cervejas ! Bebiam êle e meu parceiro, detesto "essa água de roupa suja" ! A coisa durou pouco tempo, nossas canções não empolgavam na "terra do Brega". Eu ía dizer Carimbó, que só é visto em junho... e olhe lá !

Quem encontra alguém que curte as mesmas coisas que a gente, sabe o prazer que isso traz à Vida. Mário adorava violão e música e meu parceiro Abiezér Silva era seresteiro como poucos. Se deram às mil maravilhas e foi minha vez de "empresariar" "MARIMAR", apresentando-o em colégios e praças.

Demorou uns 5 anos para eu saber que Mário tinha partido... demorou exatos 5 anos para eu saber que meu parceiro tinha partido, perto do Natal de 2005. Iremos todos algum dia -- destino fatal da Humanidade inteira -- somente não me conformo que o repertório de músicas dos 2 não tenha sido gravado, provavelmente se perdeu. De Mário lembro música e meia, ambas belíssimas ! De Silva um pouco mais !

Porque os municípios TODOS (no Pará e no Brasil) não se esforçam para ter um arquivo gravado de seus artistas ?! Isso custaria tão pouco ! Uma câmera de mil reais e um microcartão SD de 2 gigas, menos de 20 reais... e nem precisa de um Departamento para isso, basta uma gaveta ! Até quando, Senhor, o TALENTO de tantos morrerá com êles ?!

"NATO" AZEVEDO (em 20/março 2021, 20hs)