PORÕES DA MINHA ALMA
Os porões da minha alma guardam tesouros e mistérios que desconheço e nem quero chegar perto. São partes de mim ainda a desbravar, tocar, untar, acariciar. Algumas vezes. acabam escapulindo para a superfície e dão show ou causam estrago danado. Os tais tesouros e mistérios têm tentáculos famintos, que destroçam as paredes de alguns chãos bruscamente, intempestivamente. Por vezes, assustam, instaurando um pânico tão abrupto como a paixão, como a solidão, como a morte. Então me recolho cabisbaixo num alpendre qualquer e lá me mantenho eternamente, feito ermitão que odeia o sol, as gentes, a vida. Daí isso passa, como tudo passa, e a alegria volta a estrear, fagueira e saltitante como nunca. Ufa! Daí as fuligens que faziam do porão a sua morada, desnudam o roteiro original e desandam a regar meus sonhos, imantando de amor cada quinhão, cada vértebra, cada punhado de ar. Então posso ser parido de novo, com todos meus balangandãs, versos e quitutes que traduzem o meu legado, o meu torpor, a minha mais linda canção.