CAVALGADURAS
Fosse eu bem entendido na culinária, sou só metido, com alguns acertos e muitos fracassos, iria escrever receitas disso ou daquilo, para passar o meu tempo em vez de ficar colocando opiniões sobre os retrocessos evidentes nas condições de vida do nosso povo.
Ainda estamos enrolados nos pensamentos surgidos das coisas da emoção e com muito pouco da razão, apesar de tudo. O Brasil campeão do fracasso parece que não sensibiliza ninguém, as paixões continuam firmes e fortes.
Acho melhor voltar pras minhas historinhas vividas, assim se alguém quiser jogar alguma pedra, vai ter que acertar o menino daquele tempo. Dos dez anos de idade.
Quando ainda morávamos na roça, meu pai comprou um cavalo branco de nome Russo. Era um cavalo de lida, para todas frentes, desde o arado, a pipa da olaria, a carroça que carregava o barro. Na cidade, na olaria ele ainda dava conta dos serviços todos e atrelado à carroça saíamos entregando tijolos ou lenha. Com a carroça vazia eu me deitava e dormia e quando acordava estava ele parado lá em casa me esperando pacientemente para soltá-lo pra finalmente ir pastar e descansar. Era um cavalo grande, forte e muito dócil, eu não precisava de nada para cavalgar, nem mesmo do cabresto e muito menos da rédea. Fazia os malabarismos que queria em cima dele e ele não se incomodava.
Meu pai apareceu um dia com um cavalinho alazão. Cavalinho mesmo. Era menor que o outro sem termos de comparação. Mas era muito mais esperto e eu gostei de cavalgar nele. Só que ele quase me matou. Quis e por um bom tempo cavalguei nele com a mesma tranquilidade que cavalgava no outro. Só que com o cabresto, mas em pelo.
A propriedade era uma grande várzea com muitas lagoinhas formadas pela extração da argila e também muitos córregos estreitos, cavados para a drenagem da área. Em toda a extensão, por entre as lagoas existiam trilhas formadas pelo caminhar das criações que lá pastavam. Por essas trilhas eu cavalgava a galope naquele cavalinho alazão. Já estava acostumado com aquela rotina até que montei um dia, somente com o cabresto sem o arreamento, como de costume, mas montou na garupa um amigo e meu xará. Numa daquelas trilhas, a galope em cima daquele cavalinho íamos farreando. Certo de que seria como todos as vezes, fui tranquilo conduzindo a montaria. Quando chegou em um daqueles regos de água, o cavalo que todas as vezes saltava tranquilamente, estacou de repente, eu e meu amigo passamos voando por cima do pescoço do animal e fomos cair do outro lado do rego. De todos os tombos que eu caí, aquele foi o mais espetacular. Sorte que não nos machucamos.