FALANDO DAS COISAS
As coisas podem parecer de um jeito, mas são de fato do jeito que são e nem sempre é do mesmo jeito que parecem. Costumamos ver as coisas pelo o que salientam mais, o que incomodam mais ou agradam mais. Mas se cavarmos um pouco, ou muito, veremos camadas até então ignoradas, ou pouco detalhadas. Vivemos no mundo das superficialidades e estas reinam incólumes, deitam e rolam como se não houvesse nada além delas. Ledo engano. Nesse universo de superfície, tudo é farsante e efêmero, pois se sujeita à dissimulação para garantir a sua sobrevivência. O passar dos anos faz apurar o nosso faro e o desejo de mergulhar nas profundezas das coisas, desbravando seus mistérios e porões que se escondiam, meio assustados e frugais, em algum canto das gentes, dos bichos, de tudo. Daí galgamos o que chamam de autoridade e as coisas passam a revelar seu verdadeiro teor, matiz, cheiros e gostos. Daí a vida descarta suas máscaras e faz transparecer o que é de fato, com todos seus ferrolhos, gozos, estopins, ecos e, sobretudo, o seu sentido de persistir.