ASSIM ERA, ASSIM FOI!

Era comum começar o dia antes de clarear, sentando na taipa do fogão, em um banquinho de madeira, ainda com a roupa molhada de xixi, aproveitando o calor do fogo e assistindo meu pai preparando o café. Depois no curral vendo ele amarrar as vacas e ir soltando os bezerros e os amarrando na perna da vaca e iniciando a ordenha. A gente, minhas irmãs também estavam juntas às vezes, entregava a caneca e ele tirava o leite direto nela e tomávamos ainda quentinho da temperatura da vaca. Algumas vezes colocávamos açúcar na caneca outras vezes não. Muitas vezes, ainda na madrugadinha gelada, saíamos para o chiqueiro para ver nosso pai matar porco. Era duro ver aquela faca texa ser enfiada embaixo da pata dianteira do bicho que gritava desesperado, depois de morto ser colocado palhas sobre ele e atear fogo para sapecá-lo, eliminando os pelos e soltando a pele, e finalmente ver o seu facão afiado indo abrindo a barriga do bicho, mostrando aquela grossa camada de toucinho, descobrindo a barrigada que com o devido conhecimento era tirada de dentro e colocada inteira dentro de uma grande bacia. Certas vezes uma das metades do capado era colocada sobre o lombo do cavalo para ser levada para algum açougue na cidade. A metade que ficava para o consumo da família, ia a partir dali, sendo cortada pela minha mãe mais algumas das mulheres de lá que quando podiam ajudavam. Aos poucos o toucinho cortado ia enchendo os tachos sobre o fogão, fazendo a fritura que resultava na gordura e nos torresmos e peles. As carnes também cortadas salgadas e fritas, eram colocadas dentro das latas de gordura ainda líquida, mas antes do preparo uma parte da carne era repartida, e nós as crianças, éramos encarregadas de levar para os vizinhos. Esse costume existia entre as famílias de lá da Divisinha. Era bem trabalhoso, pois dali ainda se lavavam e viravam as tripas, para as linguiças e os chouriços. Algumas carnes salgadas, as linguiças e os chouriços eram pendurados em varais em cima do fogão que com o calor e a fumaça, aos poucos se tornavam defumados.

A realidade do mundo nos era ensinada na prática, vendo o quando e o como. Não existia nenhum entendimento de que deveríamos ser poupados dessas realidades.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 02/04/2021
Reeditado em 02/04/2021
Código do texto: T7222276
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