O último shabat

Betânia. Sábado, 3 de abril de 27

Com a proximidade da Páscoa Jesus e seus discípulos vem para Jerusalém e chegam a cidade de Betânia. Vão a casa de um dos chefes locais dos fariseus comer pão. Por ali se encontrava um homem hidrópico, isto é, uma pessoa que sofre de acúmulo de fluídos em alguma cavidade do corpo ou no tecido celular.

Era sábado, dia sagrado para o descanso dos judeus, o shabat. E daí, o que fazer? Jesus fez a pergunta aos anfitriões:
- É lícito curar no sábado ou não?
Todos permaneceram em silêncio. Jesus foi até o doente e o curou. Voltou a inquirir os presentes:
- Qual de vós, se lhe cair num poço o jumento, ou o boi, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado?

A situação, claro, exigia reflexão e ponderação, pois havia grupos judeus no primeiro século, no Período do Segundo Templo, que possuíam uma leitura rígida da Lei - a Torá - e observavam rigorosamente o shabat. O que Jesus, basicamente, quis ensinar com isso? Que as coisas existem para os homens e não os homens para as coisas, os ritos religiosos entre elas. O amor, a caridade e o ser humano vem primeiro e são o fundamento maior da Lei de Deus.

Para nossos dias, o que podemos tirar disso? Penso que, nesses tempos de pandemia, o fato acima nos demonstra a sacralidade da vida humana, acima dos bens materiais. Aqui podemos recordar do que o Papa Francisco falou ano passado: que o templo do Espírito Santo é o nosso corpo, e não a economia. A vida humana importa, sobretudo.

Amanhã inicia a Semana Santa, onde até quinta-feira ainda é a Quaresma. Um período de introspecção para todos os cristãos. Fique em casa, evitando o espalhamento do vírus e protegendo a vida humana, que é mais importante que tudo nesse momento, mais do que qualquer "shabat".

A imagem acima é do pintor francês James Tissot (1836 - 1902). A datação da última Páscoa de Jesus varia conforme os diferentes estudos a respeito. Aqui utilizamos a de Juanribe Pagliarin, tirada de seu livro Jesus - a vida completa.