Na solidão da rua
Ela aparecia sempre às 14horas fazia chuva ou sol. Eu chegava,
Por volta de 13hrs, pegava meu saxofone e deixava o estojo aberto. Tocava no meio da multidão, entre pessoas correndo para cima e para baixo com pressa e sem paciência. Pessoas presentes e perdidas com a mente no futuro.
Ela chegava e se encostava num poste ao lado e ficava me ouvindo tocar. Uma única vez, em que pude ouvir sua voz, foi para pedir "Sky is crying" do Gary Coleman.
Essa música me faz lembrar do único homem que amei, ela me disse. Quando comecei a tocar essa música ela ficou paralisada, as lágrimas descendo pelo seu rosto, depois foi embora em silêncio. Desde então toda vez eu tocava para ela no sax.
Quando a cidade foi esfriada pela pandemia, deixei de tocar nas ruas. Me isolei na solidão fria do apartamento. Pensei realmente se iria aguentar tudo aquilo. Esvaziei garrafas de vinho, largado e esquecido no sofá velho.
Um ano depois achando que havia se passado apenas uns poucos dias decidi tocar o meu saxofone uma vez mais na rua.
No mesmo lugar, na mesma marquise e na mesma esquina. Abri o estojo peguei o saxofone e toquei solitário...
A moça nunca mais eu vi. Soube depois que sempre vinha até a esquina e esperava eu aparecer, depois ia embora triste solitária.
Eu jurei que não iria embora, ficaria ali naquela esquina tocando meu sax todo dia a mesma hora para aquela moça que nunca mais vi ou para qualquer alma que estivesse sofrendo solitária e incompreendida...