Dia da Árvore - Dia da Poesia
Dia da Árvore - Dia da Poesia
Uma justaposição bem pensada.
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Hoje, em vez de recordar algum poema que me tenha marcado, se é que isso fosse possível, pois são inúmeros os poemas que nos marcam ao longo da vida, prefiro recordar três grandes Poetas que marcaram a minha formação enquanto pessoa pensante.
Não tanto pela Poesia em si, mas pelo modo como a viveram.
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JORGE de SENA - o grande Mestre.
Os seus estudos sobre Camões
Eu lia e re-lia os seus prefácios às obras de outros poetas. Foi Jorge de Sena quem valorizou a Poesia de António Gedeão e a sua escrita aparentemente simples. Simples - mas não "simplista".
Preservo com veneração a sua obra "Poesia de 26 Séculos", uma antologia em três volumes:
1-" De Arquíloco a Calderon"
2- "De Bashô a Nietzsche"
3- "Poesia do século XX - De Thomas Hardy a C. V. Cattaneo"
Obra publicada pela Editorial Inova, em 1971.
Jorge de Sena foi opositor à Ditadura, tendo tido que se exilar. Recorreu primeiro ao Brasil, mas devido à implantação da Ditadura nesse país, optou em seguida pelos Estados Unidos, onde foi professor na universidade do Wisconsin, e depois, professor catedrático efectivo na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.
(Jorge de Sena - 1919-1978).
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DAVID MOURÃO_FERREIRA - o grande Artista.
De David Mourão-Ferreira guardo com igual veneração as suas duas obras sobre Poesia.
Diferentemente de Jorge de Sena, a obra de David Mourão-Ferreira incide apenas sobre a Poesia Europeia:
= "Vozes da Poesia Europeia" - 3 volumes, publicados pela COLÓQUIO LETRAS; Nºs 163, 164, 165. Em 2003.
Nesta colectânea, David Mourão-Ferreira oferece-nos uma antologia panorâmica da Poesia europeia, muitas vezes com transposições dos poemas originais, feitas por ele prórprio para Português.
= "Imagens da Poesia Europeia" - 2 volumes. Igualmente publicados pela COLÓQUIO LETRAS, Nºs 168 e 169. Aqui, o Poeta lega-nos uma colecção de estudos sobre Poetas maiores que enriqueceram a vivência e tradição poéticas da Europa.
Estas obras correspondem aos programas que o Poeta desenvolveu na RTP, na década de '50 do século passado. Programas a que eu assistia devotamente, numa época em que a televisão era ainda coisa rara em Portugal.
Em Faro, onde eu vivia, foi instalado um aparelho único,no teatro do antigo Lethes. Era um aparelho monumental, com um enorme ecrã panorâmico, e quem queria ver TV, tinha que pagar um ingresso de 10 tostões ou seja, 1 Escudo... E ali se passava o serão, na sala escurecida, assistindo à programação toda, do princípio até ao fim!
Os programas de David Mourão-Ferreira figuravam entre os meus favoritos.
David Mourão-Ferreira foi Secretário de Estado da Cultura entre 1976 e 1978.
Não tendo sido um poeta da Resistência, é no entanto de sua autoria o poema do fado de denúncia do status de então, o conhecido 'Fado Peniche'. Que obviamente veio a ser proibido pela Censura, tendo o compositor Alain Oulman sido expulso do País.
(David Mourão-Ferreira - 1927-1996)
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ZECA AFONSO - o Visionário, o Idealista - a seu modo, um outro Mestre e igualmente um grande Poeta.
Enquanto os dois Poetas anteriores cumpriram um lugar educativo, embora restrito à Educação e à formação do gosto do público, aliás do público mais interessado em questões de Literatura, Zeca Afonso doou a sua sensibilidade à causa de um mundo melhor e mais justo.
Tive a sorte de ser sua aluna em Faro, tinha eu uns 14 anos.
É a ele que devo a minha sensibilização à realidade social e política. Não porque ele fizesse "doutrinação" nas suas aulas - de modo algum.
Mas pelo seu exemplo! Foi um modelo!
A sua generosidade e grandeza não se deixaram limitar pela repressão que a Ditadura exercia sobre a sociedade dessa época de triste memória. Ou sobre quem tão abertamente se lhe opunha.
Prisões e tortura abalaram-no de tal modo, que assisti a sessões em que Adriano Correia de Oliveira se colocava atrás dele, e junto ao seu ouvido lhe segredava os poemas que ele próprio fizera...
A presença de José Afonso nos "convívios", nos últimos anos da Ditadura, era galvanizante. Recordo uma sessão na Faculdade de Medicina. Quando o Zeca atacou "Os Vampiros" a sala arriscou-se a vir abaixo.
Estou convencida que sem a sua elevação moral e o seu denodo, e o seu exemplo, não teria havido 25 de Abril... Sabemos que devemos a Revolução dos Cravos à acção persistente e denodada do Partido Comunista, sem dúvida. Mas sem a acção de José Afonso... Nada teria sido como foi.
(José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos - 1929-1987)
(Adriano Correia de Oliveira - 1942-1982)
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Outros grandes Poetas poderia hoje evocar. Sem dúvida.
...Mas estes são "os meus".
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Myriam Jubilot de Carvalho
21 de Março de 2021