Copenhague Zero Grau - Formidáveis nus
Algum lugar no interior do Quênia, no caminho entre Nairóbi e Mombaça. O missionário Clayton acorda com o despertador às seis da manhã, como de costume. Já é dia, é bonito, linda manhã africana. A claridade incita a sair, o ar puro fará bem aos pulmões, ginástica antes do café-da-manhã. Banho de rio, café reforçado, Clayton sai depois para aldeia, cheio de boas intenções. Está satisfeito consigo mesmo.
Ultimamente, o trabalho com o pessoal da aldeia vem rendendo muito. Os resultados são animadores, valeu a pena ter trocado o conforto daquela pacata cidadezinha da Pensilvânia pela incerteza da catequese na selva africana. Já se pode, por exemplo, conversar com quase todos em inglês. Suaíli já todos falam, sem exceção, ninguém mais se limita ao dialeto local. Cristo seja “louvado! E aquele eterno problema, o de como se trajar, parece que que já está resolvido. Imagine que ontem, na comemoração da Páscoa, ninguém veio sem estar decentemente vestido, fosse homem ou mulher, para alegria dele, Clayton, e admiração de colegas convidados para a celebração.
A meio caminho da aldeia, resolve voltar à choupana e escrever pra casa. Quer contar dos seus progressos aos superiores.
Formidável verão de Copenhague. Formidáveis construções de Copenhague, baixas e características, nenhum arranha-céu a impedir a contemplação do azul do firmamento lá de casa, minha Minas antiga.
Verde formidável o verde de Copenhague, parques e jardins, verde mais cuidado que corpo de ginasta. Formidáveis praias da Zelândia, poucas e boas numa ilha pequena, sem plástico e sem cachorro-quente, sem hotéis e sem colônias de férias, de dunas e cabelos ao vento. .
Formidáveis homens e mulheres da Dinamarca, nus pelas praias; de corpo sadio, de volta ao começo, como nossos pais, os primitivos, os felizes, quem sabe, por serem muito mais espontâneos.
(Copenhague, 21/l0/77)