A MORTE É O FIM
A MORTE É O FIM
Marília L. Paixão
A beleza da chuva não roubou o sono
Este foi aumentando
E cercado pelo cansaço não compôs nenhum verso
Não se deixou envolver por nenhuma rima
Não permitiu que meditasse nenhum fio de pensamento
Deitou-se entregue, vencido, sem noção de caminho.
Depois achou que estava em outro espaço e parecia que só via nuvens
Sequer recordou-se da chuva fina
Em seguida a sensação de que só via pedras
De uma para outra se erguia com um esforço imenso
Preferia as nuvens, mas não era uma questão de escolha.
De forma alguma imaginou que o caminho poderia ser pior que aquele todo pedregoso
Mas foi então que percebeu que estava completamente só e este era o pior dos males
Naquele deserto onde só se via os próprios pés e as pedras o resto parecia muito distante
Se havia montanhas, não as via.
Se havia ar, não sentia.
Se havia sol, não brilhava.
Aquele não estava sendo um sonho bom.
Se gritasse, acordaria? Se parasse de andar sobre as pedras, descansaria?
A tentativa de parar causou desequilíbrio. Não podia parar para não cair.
Não podia cair, pois o chão era uma chapa quente e olhar para o céu também não era seguro. Cada pedra parecia mais perigosa que a outra mesmo olhando bem.
Tudo que queria era acordar. Fugir daquele deserto que não lhe pertencia, salvar a pele, não sentir-se febril e amolecido já quase desistindo dos passos.
Ainda assim o despertar não lhe foi presenteado por nenhum dos deuses
O movimento de uma perna passando através da outra já pesava em dobro.
Não sentia mais que caminhava. Cada vez mais agarrado as pedras, se arrastava.
Breve se esfolariam os joelhos, breve as pedras lhe roubariam o vermelho da carne e quando lhe tomassem os ossos, já não existiria. Não teria como deixar escrito que a morte não nos permite contar sequer sobre o próprio fim.