As dentaduras de Adelar
Perdoem-me os que admiram Werner von Braun, o homem que nos levou à Lua, mas o Braun meu chapa, meu chegado, é o Adelar. Sim, Adelar Braun, de Capanema, PR, simplesmente Adelar "Viola" nas rodas do futebol amador de Foz do Iguaçu. Conheço-o desde o ano 2000, quando começamos a trabalhar juntos. Adelar é louco por futebol e fanático do Colorado. Como jogador, é daqueles tipo barbantinho: não solta a bola fácil, não. Jogamos muita pelada em Ciudad del Este e Foz desde aquela época. Ele sempre brincalhão, alegre, humilde, honestidade sem par e enorme presença de espirito.
Pois não é que, certa feita, seu time ganhou um torneio em Foz e abocanhou, quase literalmente, como prêmio, uma gamela de sorvete, a ser compartilhada – bons tempos antes da Covid-19 – por todos os campeões na própria gamela, cada um com sua pazinha. Pois não é que, de repente, um colega quebra a pazinha num objeto duro no meio do sorvete. Futuca mais um pouco, até que sai a terrível surpresa: uma dentadura postiça, estupidamente gelada, cor de rosa vivo, se abria toda em sorrisos para os campeões. Era uma travessura do Adelar: botou uma dentadura nova, virgem, dentro do sorvete para diminuir a concorrência. Alguns já sabiam, outros não. Quem não sabia saiu correndo, procurando um lugar para.... Vomitar. E os mais chegados morrendo de rir dos “nojentos”, enquanto se refestelavam de sorvete.
Mas tem outra, é melhor ainda. Um dia, numa disputa de título de amadores em Foz do Iguaçu, Adelar recebe, domina a bola e sai driblando Deus e o mundo como gosta, sem dar passe pra ninguém, escapando dos pontapés, até tropeçar no goleiro, no último zagueiro e entrar com bola e tudo no fundo das redes. Esse gol podia mudar a sorte da partida. Faltava pouco, faltava um gol para seu time, era preciso voltar logo pro meio de campo, recolocar a bola na saída e tentar a vitória.
Pois nosso herói, enrolado nas redes, chutado daqui e dali pelos adversários que queriam ganhar tempo, abraça a bola, escapa dos inimigos como num jogo de futebol americano e volta correndo com a bola debaixo do braço para o meio de campo, gritando gol, gol, gol.... Quase chegando no grande círculo, interrompe o “gol, gol, gol”, põe a mão na boca e sente falta de alguma coisa: a dentadura.
Raciocínio rápido, pensa na última vez que esteve com ela na boca: foi gritando gol, quando a bola cruzou a linha. Não pensou mais, já sabia, deu meia volta, retornou correndo ao gol adversário, foi direto à rede e encontrou a dentadura travessa que, ainda boquiaberta, enrolada nas malhas da rede, continuava se abrindo, gritando e fechando, se abrindo, gritando e fechando: gol, gol, gol!