DIA 4 DE 30 - JANELANDO

Observando pela janela, vi um senhorzinho simpático passando em frente, pedalando sua bicicleta. Ele me dispensou um sorriso largo e seguiu em frente. Na bicicleta cargueira carregava duas caixas de isopor, uma na frente, a outra na garupa. Ele costuma vender açaí geladinho, daquele deliciosamente cremoso, que paraense nenhum dispensa (risos). Algo nesta cena chamou minha atenção. O sorridente senhor estava usando como chapéu uma tampa de balde grande, parafusada em uma tira de couro que circulava sua testa. Fiquei intrigada com a criatividade daquele senhor, reaproveitando material aparentemente dispensável.

Minha escrivaninha fica perto da janela do quarto. Uma janela grande, mais ou menos um metro e cinquenta centímetros quadrados. Tem um gradeado branco e vidraça em toda a janela. Essa abertura considerável me possibilita escrever e olhar o céu com mais frequência. Acho que é por isso que não mudo a escrivaninha de lugar, de jeito nenhum. De vez em quando, para descansar os olhos, olho o céu. La em cima, a muitos metros acima, nas nuvens, plainam diversos urubus. Sinto uma sensação de liberdade imensa, quando paro para observa-los. Não sei porque, essa cena sempre prende minha atenção. Observo a forma como eles plainam, a aerodinâmica das asas seguindo a corrente de ar. As vezes voam em círculos, as vezes em linha reta. As vezes ziguezagueando. As vezes observo um ou dois, isolados, solitários. As vezes brincam em grupos pequenos, ou em aglomeração. Coisa que os humanos não devem fazer nesse tempo de pandemia. Mas eles, os urubus, brincam despreocupadamente. E é reconfortante observar essas aves de rapina, limpadores da terra, plainando no alto, aproveitando as horas de ócio. E eu, aproveito minhas horas de ócio observando, janelando, brincando com as palavras, que depois de um tempo tornou-se um ofício, por demais prazeroso.

Ioleth Araújo

Altamira/PA - 04/02/2021

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