O RIO BATATÃO
Ouvi por muito tempo minha mãe dizendo que no tempo dela, tomar banho de rio era como ter uma fuga refrescante na rotina de labuta. O passatempo que ela, meus tios e minhas tias adoravam. Eu tinha lá pra uns 6 anos e ficava matutando cada palavra que ela postava na conversa. Ninguém até hoje sabe precisar a origem, mas ela disse que o rio que ficava perto da nossa casa era o mais visitado, que desde quando eram crianças iam mariscar e pescar acompanhados de meu avô ou minha avó. Daí, quando sobrava tempo entre a labuta de conseguir o marisco ou peixe em meio à agua turva, rumavam juntos até alguma parte mais limpa pra tomar banho. Gastavam a hora ali. Ao menos enquanto era possível.
Fiquei com a mesma vontade de me aventurar. Ao ouvir àquela memória de minha mãe fiquei entusiasmado. Passei dias e dias azucrinando o ouvido de meu pai pra me levar no rio também. Combinei discretamente com o irmão mais novo pra fazer a mesma teima. A gente era pequeno, mas tinha lábia. Insistimos tanto que não deu em outra. Sairíamos os três pra acampar no rio, numa parte específica que o povo chamava de "Batatão". O porquê do nome eu num sabia. Vai que tivesse alguma história sobre ter batata gigante? Fabulei esse pensamento azoado por certo tempo.
Saímos bem cedo, cerca de uma hora depois do canto do galo. Nos embrenhamos na mata da fazenda abandonada onde o rio ficava, a Fazenda Riacho Doce. Meu pai ia cortando o mato grosso com o facão corneta, enquanto eu e meu irmão só acompanhávamos o passo dele. Todo mundo trajado de bota, calça e alguma camisa de manga longa. Não demorou até passarmos por uma moita fina, a última antes da entrada pro Batatão. Foi só ele abrir a passagem pra gente chegar no destino.
A água não corria forte, nem muito fraca também. Dava pra se banhar e pescar. A areia, branca como nuvem, era tão macia que eu e meu irmão podíamos ficar pulando, numa alegria sem tamanho. Tiramos a calça, bota e camisa grossa e partimos pra água. Deitamos ali e provamos da sensação fresca que nossa mãe havia falado, enquanto nosso pai cortava pedaços de pau e palha de dendezeiro pra montar o lugar da gente dormir. Ele parecia conhecer aquele paraíso com a palma da mão. Também sorria de canto observando a gente se banhar, admirando a nossa felicidade. Tinha conhecimento de que era uma das melhores coisas que nos ofereceu em diversão. O fim de tarde perfeito, com o banho de rio que sempre sonhamos. Nunca me esqueço desse dia.