A bela e a fera
Walter Casagrande Junior, o Casão jogou muito no meu Corinthians. Qualquer um pode acessar um vídeo no YouTube e confirmar que ele foi um cara legal, além de bom jogador.
Quando ele começou a trabalhar na Rede Globo, algo não combinava: a Globo, uma emissora sempre ligada aos poderosos e apoiadora do Governo Militar, que ele tanto contestou com a Democracia Corinthiana; Casa, com suas firmes posições políticas, era despojado, não se enquadrava em “padrõezinhos”.
Pois na emissora, ele não apenas vendeu sua força de trabalho, soltando comentários óbvios de futebol. O ex-jogador se enquadrou no “padrão” Global. Hoje, o que surpreende é ele não participar daquele número musical de Ano-novo cantando “Hoje é um novo dia...”, ir, de branco, ao especial de fim de ano do Roberto Carlos ou concorrer no Dança dos Famosos.
Até aí, seu passado de jogador suplantava seu presente. Mas ele resolveu ser um “lacrador” de Twitter. Ele não tem critério, cai em contradição sem constrangimento algum. Ele nunca se deu muito bem com a Polícia, mas um autopoliciamento cairia bem. Seria democrático, nada repressivo e bastante saudável.
Como eu assisto futebol, acompanho seus comentários na antidemocrática e, antes, monopolizadora Globo. Antes, ele, com razão, criticou os atletas de hoje, porque não tinham opinião política. Porém “crucificou” Felipe Melo (Palmeiras), que se expressa, mas é bolsonarista. Concomitantemente, elogiou a tomada de posição de uma jogadora de vôlei de praia que gritou “fora, Bolsonaro”. Entendi, manifestação só vale quando é de acordo com o que ele pensa. Justo. Mas ele tem que parar de se dizer “super democrático”.
Eu poderia citar seu portfólio de contradições, mas este texto ficaria prolixo. Excesso de Jornal Nacional e Fantástico o faz enxergar censura e autoritarismo do lado errado. Seu discurso parou no tempo, lembra muito um adolescente deslumbrado com o Centro Acadêmico da faculdade.
Ofensas, brigas e contradições sustentaram o, hoje, comentarista, até ele mexer com quem realmente respeita divergências, não sendo uma democrata de palanque: Ana Paula Henkel. A ex-jogadora de vôlei, é, atualmente, arquiteta e comentarista política. Mostrando-se muito incomodado com a Ana, Casa ofendeu e atacou a vida da ex-atleta, desde sua irrepreensível vida de jogadora. Ele teve, entre outras verdades, como resposta: “Eu sou o menor dos seus problemas” e “Arrume o seu quarto, antes de querer consertar o mundo”. A metáfora vai com um processo judicial de brinde.
E nessa levada, Casagrande vai desconstruindo o grande jogador que ele foi, para tornar-se “aquele chato da Globo”. O Casa caiu, por causa de política...