A placa avisou
Estávamos em cinco, voltando da Broadway - não de Nova York, mas sim a casa noturna da região da Barra Funda. Um silêncio absoluto, parecido com o Beavis. O Beavis só se manifestava quando estava revoltado com alguma coisa ou quando precisava destruir algo. Eu escrevi “precisava” porque ele, apesar de viver num silêncio existencial, não consultava ninguém, simplesmente fazia o que desse na cabeça. E nunca vinha ideia edificante. Sempre terminava com prejuízo, e o revertério era isonômico e democrático, pois era repartido entre todos.
Foi assim, nessa noite. O hot dog da porta da Broadway já era passado, bem como a euforia da balada, só restava o relativo silêncio de uma São Paulo que não dorme, mas diminui o ritmo. Algumas sirenes e buzinas interrompem a impressão que a cidade descansa. Entramos no terminal rodoviário, que servia de caminho para o Metrô. Faltava pouco para os trens começarem a circular.
De repente, um estrondo breve, mas ensurdecedor, feriu o silêncio inebriante da noite paulistana. Só poderia ser uma pessoa: o Beavis! Na principal maneira dele demonstrar seu patológico e crônico descontentamento com o mundo, meu amigo calado quebrou sua costumeira quietude. Fez a única coisa que julgou ser possível para ser notado e ouvido pela sociedade. Parecia que a sociedade mais uma vez ignorou o Beavis, mesmo tendo se comunicado por meio de uma ruidosa destruição. Os amigos apenas reclamaram e seguiram ensimesmados.
Subindo a escada em zigue-zague para a estação, o clique de um revólver sendo engatilhado nos recebeu. No fim da escada, um segurança nos esperava. Um dos meus amigos ameaçou uma meia-volta impulsiva, mas foi rapidamente dissuadido pela mira do revólver. Como assaltantes de banco, fomos, em fila indiana e sem muita gentileza, conduzidos para, provavelmente, sermos “eliminados” e “desovados” em alguma “bocada”. O segurança pensou que ganhou a tediosa madrugada. A decepção veio quando, depois do interrogatório, descobriu que ninguém pertencia ao Primeiro Comando da Capital (PCC), “O que ele pensou ser a facção que atua dentro e fora dos presídios”, era apenas um bando de moleques insones e inconsequentes. Houve algum bate-boca e os ânimos exaltaram-se, mas logo a poeira baixou e o segurança se prontificou a “servir e proteger”.
Toda vez que o Beavis estava mais quieto que o habitual, já sabíamos: era iminente uma encrenca inversamente proporcional à quietude do meu explosivo amigo. Tenho certeza, ouvirei falar dele quando encontrarem uma bomba num shopping ou alguém invadir uma escola armado com uma metralhadora e granadas.