Júnior Dihl: poeta é poeta mesmo

Rock é rock mesmo é o título em português do filme do Led Zeppelin, The song remains the same que, traduzido, seria algo como "A canção que restou da mesma". Na boa, prefiro o nome em português. Assim como, ao ler Poesia Diária, livro do charqueadense Júnior Dihl, cheguei a igual conclusão: poeta é poeta mesmo, ou seja, quando o cara é da coisa, é e ponto:

"A poesia existe Para dar sentido a um poema Que dá sentido à vida do poeta Que dá pitacos na vida dos leitores Que sem saber fazem a poesia acontecer."

O livro chegou a mim numa tarde de sol, no início do ano. Parou um carro na frente aqui de casa e desceu um homem de máscara preta no rosto, com um livro na mão. Eu, sentado numa cadeira de praia, pensei: Quem é e o que será? Não recordava de ter encomendado nada na Lua de Papel. Pois era o Júnior! Eu havia solicitado uma cópia do seu livro e o poeta gentilmente veio me trazer uma. Adorei, claro. Hoje (ontem, para ti que estás lendo agora), sentei, passei um café e fui conferir Poesia Diária:

"Em cada café Haverá sempre Um misto de prazer Saudade, carinho Afeto e, no fundo, Um gostinho de café."

Já acompanho o que ele escreve faz um tempinho. Li seus primeiros textos e poemas e vi que sabia escrever bem. Melhor: escrever legal, pois escrever bem um monte de gente, que não escreve legal, escreve. Tive essa mesma boa impressão, décadas atrás, do cronista Rodrigo Ramazzini. O Júnior tem talento, elabora poemas acima da média e do trivial. Um caso de amor literário que deu certo:

"Comecei a escrever Por amor E passei a amar a escrita Está longe de ser um dom, Sempre foi por amor."

E qual o motivo de eu estar escrevendo hoje sobre Poesias Diárias? Motivos! São dois, que vi nas "lembranças" de meu perfil no Facebook para esse dia: há oito anos o Juliano Domingues preparava o lançamento de seu primeiro livro de poesias, Amor à prova; há nove anos o produtor cultural charqueadense Manoel Henrique Paulo assumia a direção da Casa de Cultura Mário Quintana. Poesia e Mário Quintana, tudo a ver com o Júnior Dihl!

"Em tempos assim De extrema razão É importante salientar: Licença poética é Tanto para quem escreve Quanto para quem lê."

Os poemas curtos do Júnior em Poesia Diária me lembram demais os textos de Quintana em Caderno H: diretos e poéticos, de aguda percepção do mundo e das pessoas. Ah, como adorei ler aquelas sentenças no livro de capa laranja com letras brancas! Pois o livro amarelo de Dihl - esse que ele "lê para o poeta" na imagem acima - fez-me imergir nos quintanares... 

"Não colecione bodas O amor não cabe em calendários."

Na abertura de seu livro, Dihl nos informa ter comemorado dez anos de escritos em 2019. Conta de sua primeira inspiração para a lida literária: "(...) por volta de 1995, (...), com o livro Madrugada Campeira, de Tonho Campos, (...). Numa 'orelha' do livro contém um pequeno texto escrito por Darci Ferrão, outro grande escritor que aprendi a conhecer por meio de suas crônicas'. Tenho esse livro do Tonho e recordo dos textos de Ferrão na imprensa da região. Pelo visto, foram uma boa influência e passaram o bastão para um literato de mérito. Até porque poeta é poeta mesmo, caso de amor literário atemporal:

"Acreditar num amor Sem prazo de validade Neste mundo perecível É substituir o improvável Por algo incerto Mas possível."