Lições dos Tempos
Ainda não sei ao certo se estou respeitando as regras de distanciamento por medo de pegar Covid ou por compaixão das pessoas que perderam familiares nessa pandemia. Eu sei que pode parecer estranho, mas para nós bichos selvagens também conhecidos como seres humanos a tragédia gera empatia.
Eu nunca gostei que as pessoas me dissessem o que eu deveria fazer ou não, tanto é que, por isso eu saí cedo de casa e fui me aventurar mundo afora. Conheci novas pessoas, outras culturas, me banhei em outros mares e fiz guerra de bola de neve. Vivi sonhos que nunca tive criatividade de sonhar. Mas isso tudo que vivi também teve um preço alto, quando eu escolhi fazer tudo o que tinha vontade a cobrança cedo ou tarde viria. E dessa vez eu estava certo, veio como uma flecha certeira em algo que eu não dava muito valor, o tempo. Sim, eu achava que poderia controlá-lo, ficar em determinados momentos o quanto eu desejasse, mas diferente das minhas ações e escolhas que eu as dominava, o tempo é implacável, é tão forte como a natureza, se impos facilmente sobre meus desejos e mostrou sua força. Talvez o destino seja somente a consequência do acaso e das minhas decisões ou para os mais racionais o resultado de um bom planejamento, mesmo que você nem saiba o que está fazendo em certos momentos da sua vida. O tempo me mostrou seu peso e eu como um soldado nesse campo de batalha chamado vida, fiquei ferido e tive que recorrer a quem eu nunca quis ouvir, meu eu-liríco. Estava lá dentro, espremido, frágil e esquecido.
Nesse período de quarentena era comum eu ter papel ou um caderno sobre a mesa ao lado do cinzeiro com um fino na boca que dançava conforme eu falava palavras aleatórias sozinho enquanto escrevia. A caneta na mão e um pé de ideias que eu cultivo dentro da minha cabeça que eu tento regar diariamente com água pela manhã, minha mãe diz que ajuda. Ah sim, agora eu estou escutando as pessoas ou pelos menos tentando. Resolvi escutar quem está dentro de mim, porque também não escutar quem está ao meu redor? Claro que sou cauteloso com quem eu escuto. Depois disso tudo, acho que existe um tempo para cada coisa, tempo selvagem e civilizado, tempo sentimental e racional, tempo de guerra e paz. A pandemia veio e escancarou a mistura de selvagens em civilizações. A miscigenação da racionalidade econômica em sentimentos. Cedo ou tarde a pandemia irá passar e quem aprender a mudar nessa situação, terá proveito no decorrer… do tempo.