Fratura exposta

Fratura exposta

Força e fraqueza!

Tá aí uma questão que nunca soube resolver direito, no meu tempo de estudante.

Forte, para a minha compreensão infantil, era poder levantar grandes pesos. Não apanhar daquele marmanjão que estudava na minha sala e que já tinha reprovado a quarta série umas quinhentas vezes. Mas ele tinha os braços dessa grossura. Então ele era um tremendo fortão.

Fraco, na minha concepção de estudante, era como um cara magrinho, que era come eu era.

Como eu me considerava fraco, queria ser forte. Por isso lia gibis do super-homem, do Tarzan. Ficava fascinado com a força do Hércules... e queria ser como eles: fortão!

Hoje, continuo sem saber o que é ser forte ou fraco. Mas sei que as ideias de força e de fraqueza passam longe de se resumir em levantar coisas pesadas ou e ter um corpo magrinho. Já vi cada brutamontes desmontando diante de uma agulha de injeção. E já vi uns cisquinhos de gente ficar olhando o médico lhe costurar um ferimento e, ainda por cima, fazer piada com o corte e aquelas agulhas tortas.

E, então fico pensando que a força e fraqueza tem a ver com o caráter. Um caráter fraco pode ser exemplificado como tendo sido deformado pela malandragem... por outro lado uma pessoa pública que não se deixa envolver no mar de lama da corrupção é muito mais forte que o bombado que desvia dinheiro da saúde, da educação... e deixa a população no prejuízo.

Minha professora, dizia que eu era forte no estudo. Mesmo assim eu me achava fraquinho. Sempre me dei bem com os estudos, é verdade, mas um machucadinho de nada me fazia ficar apavorado. E se via o sangue escorrendo, então... Deus me livre!

Mas a professora, parece que me perseguia. Naquele dia a aula de ciências tratava de ferimentos. Melhor ainda: como agir nos casos de fraturas. O que é que a gente pode fazer e quando esperar o bombeiro ou o médico. Hoje eu sei que sempre se deve esperar os socorristas profissionais… ma naquela época a gente tinha até aula de primeiros socorros.

O fato é que depois das explicações, minha professora tacou exercícios. Eu, nessas alturas, já estava pedindo seis para completar meia dúzia.

E não foi diferente. Uma pergunta que peguntava como agir em um acidente em que o acidentado apresenta uma fratura exposta. A gente teria que escrever um texto dando a explicação...

Na horinha que a professora acabou de passar no quadro a pergunta, eu lembrei que na noite anterior estivera na casa de meu tio. E não é que o tio havia preparado um delicioso caldo. Daqueles feito com osso. Pega o osso, com algum resto de carne grudado nele, quebra aquela ossaria toda e bota na panela com muitos temperos e outros ingredientes e põe pra cozinhar e depois de várias horas cozinhando, está pronto um caldo de osso. E fica uma delícia.

De tudo isso me lembrei quando a professor passou a tarefa. E aí não foi difícil criar uma resposta que atendesse à professora.

Assim ficou minha resposta:

“Quando ocorre uma fratura exposta, os ossos ficam aparecendo. As vezes o osso quebra tanto que sai até cavaco. Então é isso o que é que a gente faz: A gente pega os pedaços de osso e pega bastante tempero e depois cozinha tudo. E depois de algumas horas cozinhando fica pronto um delicioso caldinho de osso”.

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura – RO

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