TEMPO, MEU VELHO AMIGO.
TEMPO, MEU VELHO AMIGO.
Quando nasci era madeira lisa, porque não dizer bruta, sem nenhuma lapidação. Porém, logo que aqui cheguei fui apresentada a você. Nos primeiros anos de nossa amizade tudo era alegria, descobertas, uma fascinação só.
Isso me deixou sem perceber, o quanto íntimo meu você ficava. Não notei que sua presença era marcante. Puxa! Quanto poderia ter aproveitado de sua experiência, mas não sabia que você era um grande aliado, por isso desperdicei sua ajuda.
Contudo, pacientemente você continuou ao meu lado e sem que eu notasse, foi transformando a madeira bruta que eu era em uma bela talha. No início com marcas leves, quase imperceptíveis, mas depois mais fortes e profundas. Aí me dei conta que nossa amizade era antiga, vinha de longa data e que você em nenhum momento sequer, me abandonou.
Hoje, quando me olho no espelho, vejo o trabalho que durante todos esses anos, você fez em mim. São marcas que carregam a beleza de sua mão de artista. Depois de quarenta anos de amizade, aprendi a te ter por perto. A usá-lo com sabedoria. A não ficar cheia de problemas e descarregar minha raiva em você, como se a responsabilidade não fosse minha. A ficar reclamando que não faço o que tenho vontade, porque você não deixa. A achar que meu corpo esta perdendo o viço da juventude por sua culpa.
Meu velho amigo tempo aprendi a lhe aceitar. Parei de tentar controlá-lo a meu bel prazer de forma egoísta. Peço-lhe desculpas pelas inúmeras vezes que não fui uma boa companheira nessa jornada, em que você é um mestre paciente.
Espero que nossa amizade ainda siga por muitos anos. Não pelo simples apego a vida ou medo da morte. Mas, porque quero ainda aprender muito com você. E cada marca que você deixar no meu corpo, quero que me traga boas lembranças...
IAKISSODARA CAPIBARIBE.