Vitrola da vida
Foi no aniversário de 78 anos do meu avô que ele ganhou uma vitrola. Segundo ele, o melhor presente recebido em 20 anos. Porque há quase 20 anos sua antiga vitrola parou de funcionar. E nós, moradores do interior da Bahia não tínhamos mão de obra especializada para consertá-la. Os mais de 150 discos de vinil tiveram a poeira sacudida e viram a luz do sol depois de longos anos de solidão. Nossa família observou atentamente os dedos experientes do meu avô colocarem o disco na gaveta e descer cuidadosamente a agulha sobre o disco escuro. Por alguns segundos todos ficamos em silêncio. Um silêncio palpável, cheio de esperança e expectativa. Então a valsa estourou pelos altos falantes. Uma seresta. Uma festa se fez. Meu avô sorriu para nós extasiado. 20 anos sem escutar aquele disco. As lágrimas encheram os olhos do homem apaixonado pela música. Minha avó segurou a sua mão e propôs com seu jeito sempre animado: "Camilo, vamos dançar?"
E assim eles bailaram pelo quartinho pequeno. A família ao redor assistindo admirada. O amor é simples e assombroso, um casal unido através dos anos, dançando uma valsa atemporal.