O TERRÍFICO VÍRUS “K” QUE SALVOU 50 CRIANÇAS JUDIAS

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A Itália, que havia sido aliada da Alemanha nazista até a metade de 1943, no dia 8 de setembro do mesmo ano assinou um armistício com os Aliados e, come era de se esperar, foi imediatamente ocupada pelas tropas nazistas lideradas pelo marechal Albert Kesserling.

Os policiais da famigerada Gestapo (chefiada pelo Major Kappler), auxiliados por soldados da Wehrmacht e um destacamento de fascistas, nas primeiras horas do sábado, 16 de outubro de 1943, invadiram o Gueto de Roma, o mais importante da Itália. Como resultado da ação, 1.023 pessoas: homens, mulheres e crianças foram internados no campo de extermínio de Auschwitz, do qual apenas dezesseis conseguiram retornar depois do fim da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, uns judeus aproveitaram da confusão para escapar da batida e se refugiarem nas casas de amigos e parentes que viviam fora do bairro judeu. Entre eles, estavam 50 crianças que não podiam permanecer com suas famílias, obrigadas a se deslocar em continuação para se subtrair não apenas à ação de seus perseguidores, mas também às delações de informantes recompensados pelas autoridades alemãs.

Foi nessa dramática circunstância que três médicos do hospital romano “Fatebenefratelli”, os doutores Giovanni Borromeo, Adriano Ossicini e Vittorio Emanuele Sacerdoti (esse último era judeu e trabalhava usando um nome falso), resolveram hospedar cinquenta crianças. O problema era que, se os nazistas tivessem vasculhado o edifício, teriam descoberto os meninos e os teriam deportados.

Destarte, os três médicos “inventaram” uma grave doença que havia infectado apenas e somente aquelas crianças que haviam escapado da batida, mas que ainda corriam o risco de ser encontradas pela Gestapo. Ao interná-las no hospital e mantê-las isoladas no porão do prédio onde ficava a enfermaria de doenças infecciosas, elas certamente teriam permanecido em segurança, protegidas pelo medo.

Consequentemente, os soldados alemães foram aconselhados pelos médicos a não inspecionar o pavilhão, alertando-os do risco a que estariam expostos ao entrar em contato com pacientes afetados por aquele terrível vírus. Um vírus imaginário, o mortal vírus "K", que devia seu nome às iniciais de Kappler, chefe dos serviços secretos nazistas em Roma, e do marechal Kesselring, comandante de todas as forças armadas alemãs na Itália. Ao fazer isso, o Dr. Borromeo, junto com Ossicini e Sacerdoti, resolveu falsificar dezenas de registros médicos, mantendo os oficiais alemães afastados, até eles deixarem Roma em 1944.

Segundo testemunhos recolhidos por uma jornalista do cotidiano “Il Messaggero”, nem todos haviam sido informados da fraude no hospital; e, por isso, o medo também espalhou-se entre a classe médica da capital que ouvira boatos de uma doença rara e mortal infestando a enfermaria subterrânea de um dos hospitais mais antigos de Roma, sem saber que se tratava de um plano maquiavélico. Realmente as SS não se atreveram a investigar o pavilhão, pensando que não valia a pena correr o risco.

Entretanto, durante o inverno de 1943, alguns oficiais nazistas insistiram para inspecionar a enfermaria junto com um médico militar alemão que deveria visitar os pacientes e averiguar os sintomas. Felizmente, devido à demora dos fiscais, o Dr. Ossicini conseguiu explicar a situação aos pequenos pacientes, convencendo-os a "calar a boca e tossir" para assustar os "bandidos" que usavam o símbolo da caveira no colarinho de seus uniformes pretos.

O jogo funcionou e os três médicos corajosos salvaram a vida de mais de cinquenta crianças com uma das mais ousadas e bem sucedida mentira de toda a história da medicina.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 27/01/2021
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