São Paulo 467 - “Non ducor, duco” *

Sampa e Pauliceia Desvairada. A cidade já foi cantada por Caetano Veloso, Premeditando o Breque, Tom Zé, Beto Guedes, Ira!, Inocentes etc. É difícil dizer alguma coisa (bem ou mal) quando tantos já disseram, cantaram e filmaram. Quando chega o aniversário da cidade, proliferam elogios.

Números:

▪️São Paulo, com mais de 12 milhões de habitantes, é a cidade mais populosa do Brasil;

▪️a 8ª mais populosa do planeta;

▪️10º PIB do mundo;

▪️11ª cidade mais globalizada do planeta;

▪️a região metropolitana de São Paulo, com aproximadamente 21 milhões de habitantes, é a 10ª maior aglomeração urbana do mundo.

São Paulo é uma cidade onde o Bob Esponja, sempre sorrindo, pode pegar o Metrô sem ser incomodado, sem ninguém achar estranha a bizarra presença. Muito pelo contrário, os passageiros não darão a menor bola à inusitada frequência. Provavelmente, continuarão absortos, preocupados com o retorno do trabalho, ou a ida, ou nada disso, ou apenas, “paulistanamente”, continuarão mal-humorados. Eu mesmo, numa cena absolutamente nonsense, tive o prazer de flagrar a Galinha Pintadinha, sempre feliz, sendo amparada por uma acompanhante, descendo as escadas do teatro Ruth Escobar. Como aquele acontecimento pitoresco não é algo que se vê todo dia, abri um sorriso.

O que se repete todos os anos, é alguém fazer alguma declaração de amor à cidade que não dorme, para, logo em seguida, lançar mão de uma conjunção adversativa (geralmente “mas”), sapecando algum xingamento camuflado em eufemismos, ou mesmo algum impropério mais incisivo. Psicologicamente, é um sentimento de culpa intrínseca, um pedido de desculpas por gostar de um ajuntamento tão artificial, cinza, de concreto, devorador de almas, impessoal.

Uma peculiaridade boa e ruim, são os shows. Bom, lógico, é assisti-los. Não diria ruim, mas interessante, porque ativa a memória afetiva, foi passar ao lado do Estádio do Pacaembu, ouvindo um pouquinho do Iron Maiden. A consolação foi, logo depois, num bar de rock, cantar Fear of the Dark, lamentando por estar tão perto, mas fora do show.

Banzo era o nome africano da melancolia que os escravos sentiam em relação à terra natal, à aldeia. Hà quase sete anos afastado de São Paulo (cidade), tirando os trabalhos forçados, é isso o que sinto: banzo. Saudades da minha aldeia...

RRRafael
Enviado por RRRafael em 22/01/2021
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