Persianas (16.12.2020)

PROPOSTA: Olha pela janela. Escolha uma janela de sua casa e olhe através dela. Olhe para todos os lados por apenas um ou dois minutos. O que você vê? Talvez inicialmente você me responda: Nada!.

Observe. Procure ver todos os detalhes. Veja, ouça, sinta. Que cores você vê? Onde estão essas cores? Que barulhos você ouve? De onde eles Vêm? Que cheiros bons ou ruins você sente? De quê e de onde vêm? Você consegue descrever tudo isso?

Agora conte como foi esse minuto em um minuto. Diga como você estava, com que roupa, como é a janela em que você se encostou, como é o ambiente onde está a janela, diga tudo o que você viu até mesmo diga o quanto você achou legal ou ridícula essa atividade antes e depois de fazê-la.

RESPOSTA:

PERSIANAS (16.12.2020)

Parece cômico, mas tive que colocar uma cadeira logo abaixo da janela para poder olhar. Cômico porque fiquei parecendo aquelas senhoras que cuidam da vida alheia, e até que foi uma atividade meio difícil pois minhas janelas, na verdade são persianas de ventilação (e a única janela de verdade que tenho em casa só dá para o corredor comum do prédio). Pequena pausa para o leitor rir, se recuperar e voltar à leitura.

A primeira coisa que vi, depois que meus olhos astigmatizados se acostumaram à luz, durante aquele minuto de observação (e também de exercícios de meia-ponta e agachamento para ver mais, pois uma persiana não dá tanta visibilidade), foi um avião passando ao longe. Na hora pensei que meus pais devem ter ouvido aquele avião, pois sempre escuto os enormes pássaros de metal quando visito aquelas bandas do Montese. Há muitas folhas balançando em meio ao cinza colorido dos prédios, em contraste com um céu parcialmente nublado (olhe só, querido leitor, eu bancando a moça do tempo).

Vejo a torre da Igreja Nossa Senhora de Nazaré ao longe, perto daquela caixa d’água da Cagece, onde, em seu topo, as lendas dizem que morava o Hulk, vai entender. Ouço também o som de algumas poucas buzinas, pois a essa hora as pessoas devem estar em casa saboreando o almoço ou descansando-o. Motos zoadentas também há, e reza mais uma lenda que os donos dessas motos adulteram suas descargas para fazer esse barulho a fim de anunciar que foram traídas. Em outras palavras, gente corna!

Vejo também uma bandeira do nosso país tremulando a algumas várias casas de distância, bem como vários telhados, pois moro no segundo andar do prédio, inclusive um com uma disposição de telhas esquisita em cima de algo que parece ser aquele tipo... Com é que diz? Amianto? De início pensei que fossem letras, mas desisti de decifrar, até porque... Convenhamos, eu estava em pé numa cadeira olhando pela janela! E também há alguns pássaros vivendo suas vidas voantes.

E, olhando mais para o horizonte, onde de início vi o tal avião, vejo o contorno de uma serra e, mais para a direita, uma outra maior e com mais morros. Lembrei de quando era pequena e ia com meu pai de carro buscar minha mãe no trabalho, sempre pedia para que ele fosse direto com o carro até chegarmos à serra que eu via pelo vidro da frente. O leitor pode perceber que desde essa época minha caixolinha funcionava de um jeito bem peculiar.

Outros prédios e mais barulhos cidadescos. Agora, no momento de digitação deste texto, penso se tudo poderia estar diferente se não estivéssemos passando por um período pelo qual nutro um ódio que nunca pensei sentir por algo. Com certeza já teria, em algum momento, ouvido o barulho dos jogos no estádio aqui perto, com certeza já teria recebido amigos em casa, com certeza tudo estaria muito melhor...

Paulia B. Sousa

Paulia Barreto
Enviado por Paulia Barreto em 14/01/2021
Reeditado em 04/02/2021
Código do texto: T7159565
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