Medo de perder o controle
Moro em uma cidade com menos de 4 mil habitantes. Uma cidade tranquila, acolhedora, onde todos se conhecem e torcem um pelos outros. Aqui quase todos são amigos, muitos são parentes e cada um se alegre com a felicidade do outro ou se compraz com suas dores.
E mesmo nesse lugar tranquilo, o medo se abateu sobre nós. Veio na forma minúscula e invisível de um vírus. Não fomos cuidadosos, pois aqui confiamos tanto uns nos outros, que tivemos a certeza de que nada de mau nos aconteceria...
Hoje vivemos sob tensão e medo de perder o controle. Ao falar sobre medo de perder o controle não me refiro à possibilidade de perder as faculdades mentais e enlouquecer, mas de perder o controle de gerenciamento sobre a própria vida. Este é um dos medos mais prevalentes nos dias atuais e nunca estiveram tão em alta.
A nossa rotina foi transformada, a ausência de pessoas queridas, a perda da autonomia e de liberdade. A grande incerteza que o mundo está vivendo tem gerado o medo de não se conseguirmos controlar o resultado de nossos futuros, temos medo de que algo terrível possa nos acontecer.
Toda essa angústia, gera diversas sensações, mas que tem em comum essa ausência de poder de escolha. Não podemos mais usufruir do direito de ir e vir. Não podemos mandar os filhos para a escola. Não podemos programar aquela festa de casamento ou aniversário que vínhamos sonhando.
Enfim, quem decide sobre nossas vidas? Será que somos cada um de nós ainda? Ou tivemos que delegar essas decisões a um vírus, que após alcançar enorme contingente de contaminação e morte nas grandes cidades, agora vem desassossegar e amedrontar quem vive longe dos grandes centos comerciais, shoppings, parques, estádios, etc.? Será que estou no controle do que penso, do que sinto ou do que faço?
Estes questionamentos têm gerado ansiedade e muito estresse, que, se não controlados, podem transformar-se em transtornos mentais graves e severos.
Nalia Lacerda Viana, 10 de janeiro de 2021