Quitutes
Talvez fosse a menor confraria/sociedade secreta do mundo. Como era tradição, meu cunhado (sempre ele) e eu fomos beber umas cervejas num inofensivo boteco pé-sujo afastado da cidade. Às vezes, vamos parar em um empório. Na minha observação de turista, esse tipo de estabelecimento é até mais a cara do interior, autêntico. O empório é muito pitoresco porque vende de defensivo agrícola a alimentos.
Foi quando ela surgiu. Como o som de um LP riscando, uma irritante microfonia ou um espelho quebrando, a... moça, interrompendo a conversa, ofereceu seus atributos femininos, como se a oferta fosse algo irrecusável. Não estávamos embriagados o suficiente, de modo que nosso senso estético obrigou-nos a declinar da generosa, gentil e explícita oferta. Traduzindo, para não tão bom entendedor: estava cedo demais para aquela coisa fofa virar uma princesa.
Não era possível permanecer no recinto. O horário e a frequência naturalmente espantavam os mais religiosos ou os que somente mantinham hábitos mais familiares. Sentimos o ambiente, outrora acolhedor, inóspito. Partimos.
Devido aos acontecimentos, a saideira tornou-se algo muito perigoso. O jeito seria trocar de boteco, abrir umas garrafas em casa (local salubre) assistindo a algum programa esportivo ou adiantar o Engov ou a aspirina e chá de boldo.
A caçadora avistou potenciais presas, talvez mais suscetíveis aos seus imaginários encantos. Pobres almas que, desavisadas, seriam vítimas fáceis da teia da “Viúva Negra” caçadora. O enganoso canto da sereia, subterfúgio da “Bruxa do Mar” encontraria terreno fértil para suas incursões erráticas. De mesa em mesa, alguém não resistiria a seus atributos e ela haveria de traçar seu destino.
No fundo, tudo é muito patético, triste. A moça estava apaixonada pela cerveja, oferecendo o que parecia possuir de maior valor em troca de um mísero copo da bebida e, talvez também, um punhado de salgadinho barato. Para ela, uma vida miserável, quase sem escapatória; para nós era apenas uma situação embaraçosa, da qual a saída era a avenida mais próxima.