RAINHA DAS MOSCAS

Estava trabalhando de madrugada, hora bendita para laçar a inspiração dos confins mais confins da alma para transformá-las num amontado de palavras e frases que teimam por dizer alguma coisa.

De repente fui surpreendido por um inseto voando, de forma inquieta, perto do computador.

Era uma mosca.

Não uma mosca qualquer, daquelas que a gente esmaga com chinelo sem dó nem piedade.

Imagine uma mosca bem mais gorda, com corpo marrom. E que zunia sem parar.

Diria até que era uma mosca bonita, vistosa.

Abri a janela na tentativa que fosse voando embora e nada.

Ela insistia em ficar rodeando a mim e ao meu computador.

Foi então que dei conta de que não era mesmo uma mosca qualquer.

Estava tendo o privilégio de ver a rainha das moscas.

Devia ter se perdido do seu séquito, ou algo por aí, indo parar justamente nos domínios deste pobre escriba.

Percebi então que, sendo rainha, merecia toda corte, toda reverência,

todo respeito.

Estendi a minha mão para que nela pousasse. E logo assim fez,

quando tive a oportunidade de observar mais de perto.

Era mesmo linda e tinha porte de rainha.

Fiz então o que um súdito deveria fazer naquela hora: saudei-a com a cabeça, o que ela respondeu abanando efusivamente as suas asas.

Calmamente conduzi a sua majestade até a janela, para que voasse de volta aos seus domínios.

Quando fui retornar ao trabalho, tomei um susto.

Sobre a parte superior do teclado, havia um presente especial de sua alteza.

Uma imensa asa repousava solenemente ali.

Em se tratando de uma rainha, não poderia ter deixado uma lembrança qualquer.

Vá em paz, rainha.

E sempre que quiser retornar, a minha janela e meu coração estarão

escancarados à sua espera.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 31/12/2020
Reeditado em 31/12/2020
Código do texto: T7148214
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