Clímax natalino (barracos de natal)

Aqui em casa todo natal é igual, é festa, fartura, família reunida e animada.

Minha mãe desde o dia anterior preparando a comida e arrumando toda a casa.

Meu pai tenta colaborar, anda de lá pra cá, pergunta o que pode fazer, mas no final não ajuda em nada.

O dia começa a escurecer, vai aparecendo parente que eu nunca cheguei a ver. Primo, prima, tio, tia distante, trazem até a bicharada.

Cada um vai se achegando, todo mundo se abraçando, e a casa ficando lotada.

Quando parece que estão todos acomodados começa o amigo secreto, que põe um fim no decreto que a família cumpria de se manter comportada.

A prima Dulce, que sempre quer se mostrar, só compra coisa importada é quem inicia a brincadeira. Sorteou o Toninho, marido de sua irmã, que não trouxe presente porque tá sempre duro. Abraça quem foi tirado por ele e dá uma desculpa esfarrapada.

Luíza, a prima militante, tomou a vez na rodada, tirou o tio Ricardo apoiador do candidato sem partido, e ficou toda revoltada.

Deu a ele um livro, “O Capital”, fez todo o seu discurso chamando o tio de boçal por seu voto na eleição passada.

Foi aí que o rebuliço começou, iniciou a gritaria, todo mundo se exaltou. Aproveitaram a baixaria para a roupa suja ser lavada.

E o tio do pavê com sua piada engatilhada, aproveitou para contá-la ao Juninho, meu irmão, que observava a situação e só sabia dar risada.

Marcelo, o agregado, mete a mão no salpicão, queria dar uma beliscada e leva um tapão da Tia Ana, que observa o quebra pau desesperada.

Tio Hélio sempre sem noção, vira pro primo Paulinho, e até no meio daquela confusão, faz a pergunta de sempre: -“ Meu filho, cadê a namorada?”

Tia Genilda, como de praxe chega atrasada, vê a briga e fica horrorizada.

Vovó Isabel toda aflita sentada no sofá da sala, dá um grito no vô Zé que tentou pôr ordem no alvoroço, pegou uma vassoura e começou a descer a porrada.

Billy, o cachorro, no seu lugar estratégico perto da mesa, com o olhar atento ao frango planeja seu pulo para pegar uma nacada.

Meu cunhado Luiz, sempre animado, tenta dar uma acalmada, aumenta a música, e começa a dançar pensando que está na balada.

Até a Clarinha, bebê da família, já estava acostumada, dormia tranquila durante toda a baderna, o que deixava sua mãe, a prima Camila, aliviada.

Enquanto isso, tia Laura, a antissocial, vislumbrava o pandemônio ao fundo, afastada.

Natália, Minha irmã, que ainda tinha esperança de fazermos a ceia, ficou arrasada, ao ver o pessoal que se organizava para ir embora no meio da madrugada.

A tia Célia, sempre distraída e avoada, pede para o povo esperar e solta a pergunta: - Mas ninguém vai comer a rabanada?

Todo ano é a mesma palhaçada, mas natal é isso, aproxima até quem nem se fala. E eu sei que no próximo, estarão aqui, todos juntos de novo, deixando esta já alegre data ainda mais divertida com essa família desajustada.