O que poderá ser feito?
Estou deveras preocupada com o momento que estamos vivendo. Parece-me estar dentro de uma guerra abafada. O ódio desfila e está se tornando uma virtude
As pessoas se tornaram extremistas, acreditam muito, ou são totalmente incrédulos. Age-se muito pouco. Não se busca mais os seus ideais. Tornaram-se fanáticos. E fanáticos não têm dúvidas. Estão ensimesmados em pretensas verdades, convictos de que o mundo inteiro deve ouvi-los porque, fora de seus próprios não há salvação, fora do que eles pensam está tudo errado.
Ou se é de direita ou de esquerda, céticos ou crentes ao extremo, apoiadores ou adversários. Não há meio termo é isso ou aquilo, e, está acabado.
Profundamente convencidos que suas crenças, ainda que contrárias a qualquer fundamento ético, não há liberdade de expressão nem múltiplas fontes de conhecimento que os convença.
Com pessoas assim, infelizmente de pouco ou nada valem argumentos bem fundamentados, comprovações cientificas são balelas. Conselhos embasados na ciência são falácias. Afinal, não estão dispostos a ouvir nem sequer uma única linha que contradiga suas próprias experiências.
Refutam tudo o que é novo, diferente, incomum e estranho à sua opinião. Fechados em si mesmos, creem encontrar segurança e força contra todos os tipos de “males”, afinal têm o exército e os militares ao seu lado.
Uma teoria científica nova e diferente daquela a que se acostumaram por séculos, uma proposta alternativa de alimentação, maiores liberdades para as mulheres, valorização de negros, homossexuais, discussão sobre a possibilidade de um aborto justificável... (a lista pode se estender) não se encaixam em seus preceitos... nada pode ser mudado.
E mesmo que não manuseiem explosivos e abertamente se considerem equilibrados e favoráveis ao diálogo se escondem por detrás de álibis falsos ou arranjados. Dificilmente terão abertura para uma conversa franca e agradável, sobre a forma de ver o mundo por mais de uma vertente, sobre ópticas diferentes...
Pensar diferente pode acabar em mortes, prisões, demissões, impeachments... quem quer apostar na vida pode ser alvo de críticas, ouvir que são preguiçosos, que não querem trabalhar, não querem o bem do país...
E o que poderá ser feito? Essa é a pergunta que me consome no momento...
Nalia Lacerda Viana, 16 de dezembro de 2020