Além da paciência
O grito saiu apertado da sacada do quarto. Mãos suando e coração acelerado. Assim aconteceu no dia em que explodi.
Dizem que a paciência é fundamental na busca da paz, porém, até ela, deve ser utilizada sem exageros ou escassez. Tudo em nossa vida é dosado. "O desequilibrado morre pela boca ou perde peso demais". Sal e açúcar para fazer soro caseiro tem suas proporções certas, caso contrário, não seria mais um soro, mas algo com sabor forte para o salgado ou doce.
A paciência, naquele momento, já tinha ultrapassado o nível do aceitável no termômetro. A paciência já estava sendo vilã, não salvadora; ela já estava permitindo o que eu não deveria mais permitir.
Então, envolta por uma explosão de atitude revolta, abri a janela do quarto e gritei, não com a boca, mas com um espírito retumbante, que finalmente teve coragem de exigir o direito ao silêncio, à paz; ao direito de dormir depois das 0 horas.
O som diminuiu, apesar de os megafones naturais ainda estarem ligados, propagando sons desconexos, palavras torpes e gritos estridentes.