UM SORRISO DESENXABIDO
Há um provérbio hindu que nos ensina que "o sorriso que envias, volta para ti”, como se fosse um bumerangue, portanto, devemos, na medida do possível, sorrir um pouco, mesmo que o façamos de forma descontraída, porque o mundo que está ao nosso redor carece muito desse intercâmbio de alegria.
Por outro lado, ainda que haja algum fundo de verdade nessa assertiva, não tem sido isso o que vem acontecendo com o jovem Zelão, o filho mais querido da Dona Sinhá, pessoa bastante conhecida na comunidade onde mora. Esse jovem, desde seu tempo de criança, sempre foi uma pessoa detentora de um sorriso amplo, descontraído aos extremos, mas, ultimamente, ele anda meio acabrunhado e tem evitado sorrir como o fazia antes.
Assim, aquela sua expressão facial rotineira em que os lábios se distendiam para os lados e, seguidamente, os cantos da boca se elevavam ligeiramente, estado de espírito esse apresentado geralmente pelas pessoas que tencionam denotar alegria, amabilidade, contentamento etc., já não se vê mais com tanta frequência estampado no semblante, quase puro, desse jovem nascido e criado na comunidade Vila Macambiras.
Os fofoqueiros de plantão têm levado a público diversas versões, que tratam, evidentemente, dessa situação inusitada, tentando justificar, de algum modo, a atual apatia emocional desse jovem, mas independente de quaisquer ilações maledicentes acerca de seu estado de sisudez de agora. Há rumores circulando na vila onde ele mora, que ele talvez esteja fazendo um tratamento dentário preventivo e que por isso, de vez em quando, ele tem esboçado apenas um sorriso de leve, meio maroto, representado por uma ligeira contração dos músculos faciais, procurando não mostrar, é claro, uma pequena lacuna ora existente na sua arcada dentária frontal.
Pensando cá com os meus botões e longe de querer me colocar na condição de um desses fofoqueiros de plantão, às vezes, eu tenho me perguntado:
- Será que o Zelão está vivendo algum momento de moderação emocional atípico ou só está com receio de mostrar seus dentes, como sempre o fez, mesmo em momentos que não o eram propícios para tal?