Quando acordo todos os dias, tiro uma hora de manhã para fazer minhas meditações, essas que aprendi durante esse periodo de reclusão. Pensamentos positivos, técnica da respiração, entremeados com salmos da Bíblia. E os dias passam, como se já tivessem passado milhões de anos. É preciso ter uma cabeça muito criativa para pintar a rotina do dia-a-dia. Passei a me dedicar mais para minha casa, e eu, que sempre gostei de cozinhar, expandi a minha criatividade, aprendendo novas receitas. Depois de 30 anos morando nos EUA, fiz o meu primeiro bolo! Hooray! (expressão usada aqui como um grito de vitória!). Dentro de casa tudo bonitinho, arrumadinho e no lugar… puxa que chato! Em certos dias sinto saudades da minha bagunçinha básica. Roupa lavada, passada, guardada, pronto! Missão cumprida! Cuidar das minhas plantas (minha casa é uma selva), ajeitar os quadros na parede, mudar os móveis do lugar. Nesses meses não perdi "unzinho" pôr-do-sol. Sentava-me na cadeira no meu deck e Deus tirava seus pincéis e tintas e pintava o seu mais lindo quadro - especialmente para mim! Fotografei todos! Coloquei o pé no breque (logo eu, que sou ligada em alta amperagem) e pareço estar dirigindo prestando mais atencao na paisagem, que passa bem mais devagar pela janela da minha vida. A convivência com meu marido tornou-se uma história digna de filme do Hallmark, com muitos momentos Kodak de conversas profundas, entremeadas com humor e risadas altas (minhas, claro!). Algumas vezes queremos afogar um ao outro no lago dos fundos da casa, mas a vontade passa logo, depois de saborearmos uma taca de vinho merlot. A vida passou a ser gostosa de um lado, mas triste de outro, conseguindo resgatar meus óculos cor-de-rosa de Pollyana. Achei-os em minhas gavetas empoeiradas (que agora estão limpinhas!). E por trás dos dias, do choro às vezes embutido, (evitando contaminar o ambiente), nascem pedaços de sonhos - côr-de-rosa como algodão doce.
Tema: Por trás dos dias