Um momento vazio e solitário.

Voltei pra minha cidade quando fiz 25 anos.

Quando cheguei na estação sé, em torno das duas da tarde, eu era apenas um jovem aventureiro e idiota, como qualquer outro. Porém, ter voltado pra minha cidade natal ...bom...foi triste pra porra. Foi um momento vazio e solitário, que até hoje não consigo esquecer.

Eu apenas fiquei lá...com as minhas malas, esperando chegar até as 15 horas, pois nesse horário deveria aparecer alguém. Porém(com o passar dos anos),eu percebi que esse alguém nunca ia aparecer. Única coisa que(sempre) tinha ao meu redor eram as pessoas, pessoas, pessoas....e mais pessoas.

A maioria delas tinham rostos, rostos anônimos, tristes, frágeis como vidros. Rostos que não tinham nenhuma expressão, a não ser de morte ou tédio. Todas elas correndo, tentando ir até a um tal lugar e tudo mais.

e eu apenas estava lá...

sozinho e sem destino.

Fiquei um tempo fora de minha cidade...

e isso me abalou bastante.

Parece que fiquei um tempo demais dentro nas pernas de uma boa mulher, fazendo amor com ela o dia inteiro. E daquele momento, meio que esqueci o quanto a minha cidade (as vezes) é sinistra e esquisita.

De qualquer forma, eu esperei, esperei, esperei...e ninguém apareceu. Então eu passei no corrimão, desci a escada rolante e fiquei esperando o metrô linha verde aparecer .

Porém, aquilo me paralisou, aquela massa, aquelas figuras medonhas e anônimas. E eu tentei mentalmente fugir, fugir daquele mar de depressão e voltar a chupar aquela doce boceta que eu deixei lá atrás. Mas nada conseguia me confortar...nada!

Eu deixei cinco metrôs passarem sem eu entrar, só depois de meia hora depois eu peguei o sexto metrô. Ele estava cheio, cheio de pessoas, cheio de odores e de feições cansadas e entediadas.

Pensei que talvez as coisas lá em casa estejam melhores ou coisa do tipo, mas parecia que já fazia um bom tempo que eu não ia pra casa. Fiquei um bom tempo com aquela mulher e esqueci o caminho de volta.

De qualquer forma, no meio do caminho, eu vi as luzes amarelas brilhando de maneira desafinada entre as estações, vi os prédios pichados chorando tristemente, vi o vazio das barrigas nos ratos do bairro Penha bebendo aquele rio de merda, vi aquela lua vazia bebendo o velho rum deixado pelo barba negra e vi um coelho correndo na estação Patriarca fugindo de um tigre malvado e selvagem.

Eu vi todas essas coisas vazias que me deu uma sensação de vazio e solidão.

Acho que foi uns dos dias mais solitários que eu já tive. E claro, isso é muita coisa, pois eu já tive vários dias solitários.

Mas bom...isso foi um pouco antes de conhecer a Jane. Aquela menina doida, que cada semana mudava a cor no cabelo, mas não conseguia mudar a cor de suas lágrimas. Foi antes de eu quebrar o meu querido Thomas azul, gastar o meu ultimo salario em breja e depois pensar em arranjar um dinheiro para comprar um novo violão.

Mas isso é outro assunto, que acredito que vocês não vão se interessar.