Descanse em paz, meu tio.
Quando vi meu tio, naquele dia, ele estava diferente. Não se parecia com ele. O dia também estava diferente. Era um dia de Sol brilhante e reluzente e daquela pequena janelinha de vidro eu via o rosto do meu tio. Na minha visão ele estava feliz.
Passara a vida toda trabalhando. Desde a mais tenra idade, sempre trabalhou freneticamente para se manter e manter a família. Até aquele dia fez tudo sem reclamar. Cumpriu suas obrigações de pai de família exemplar.
Sempre tivemos afeição um pelo o outro e, naquele dia, fui o primeiro a chegar. Uma semana antes ele havia me ligado. Disse que tinha algo importante para me dizer. Mas na correria do dia a dia, não havia ainda tido tempo de vir conversar com ele.
Arrependo-me de não ter vindo, logo que meu tio solicitou, porque ele era como um pai que nunca tive, pois, meu pai nos abandou muito cedo. Uma vez disse para ele: “Meu tio, aqui e aonde você estiver, você sempre será um pai para mim”.
Os filhos, também começaram a chegar. Foi juntando todo mundo. Meu tio com o rosto sereno e com as marcas do tempo e todos o via por aquela minúscula janelinha de vidro. Minha tia não se conteve e se emocionou, pois, a família toda estava vindo ao seu encontro. Os irmãos do meu tio que faziam tempo que não viam, apareceram e se fizeram presente. “Olhe meu filho, não sabia que o seu tio era tão querido” confidenciou minha tia, quando fui tomar-lhe a bênção.
Vá lá ter o seu momento particular com ele. Passou a semana toda falando seu nome.
__ É, meu tio, chegou o grande dia! Saia desse cubículo, homem! Venha me dá um abraço! Peço desculpas ao senhor por não ter vindo antes, mas hoje não poderia faltar.
__ Descanse em paz, meu tio! Você merece.
__ Deixe de conversa fiada, rapaz! Vem cá.
__ Vai chorar, vai chorar! Vamos tomar uma cerveja com os outros. A gente só tem uma vida. Apenas me aposentei, rapaz, e você está assim. Imagina quando eu morrer.
Pedro Barros.