Reflexo

Sobre o que escreverei hoje? Pois foi justamente o que me perguntei pela manhã enquanto passava café na cozinha, sentindo o cheiro estimulante e dando uma olhada nas notícias. Então fui ver minhas lembranças no Facebook e dei de cara com uma da Feira do Livro do ano passado. Ah, a Feira do Livro de Porto Alegre, estaria acontecendo por agora (1) lá na praça. Um dos poucos locais, fora minha casa, onde me sinto mais legal do que na Arena em dia de jogo. Os outros são a Praia da Guarita, a Lancheria da (ex) Rodoviária CH e a Livraria Cultura do Bourbon Country.

Tem outros lugares que curto também, como a Casa de Cultura Mário Quintana, lá no café do sétimo andar, com aquela vista maravilhosa do Guaíba, dentre outros, mas os acima é que são os meus "Top Five", que nem no CQC. A Feira do Livro de Porto Alegre, especificamente, é "algo" para um cara como eu, que gosta de café, de livro, de escritores e de estar com gente que gosta de ler e de escrever. Logo, a minha lembrança sobre a Feira do Livro do ano passado é uma postagem sobre o lançamento de um livro do qual a artista visual e literata charqueadense (2) Amanda Santos - cujo trabalho aprecio - participou: Pequenas Histórias de Porto Alegre, Editora Metamorfose. Comprei-o naquele dia e escrevi sobre ele aqui no Portal de Notícias (3), por isso o post. Chovia naquela ocasião, hoje faz um lindo dia de sol.

Então lembrei que, desde julho ou agosto, estou com outro livro do qual ela participa, pela mesma editora, o Primeira Pessoa (foto acima), organizado por Marcelo Spalding, que a amiga Minéia Vargas trouxe para mim, a pedido. Estava na "fila de leitura", isto é, aquela fila de livros ainda não lidos que todo mundo que gosta de livro e que compra sempre muito mais do que poderia ler possui. Não sou exceção à regra. Nesses tempos de pandemia, inclusive, todo o livro que adquiro (bem poucos, via online e tele-entrega) vão para a "quarentena". Protocolo é protocolo, sou rigoroso. Entetanto, quarentena é uma coisa e fila de leitura é outra, uma não invalida a outra, a não ser por que não faço mais nesses tempos uma leitura exploratória do livro antes de enviá-lo pra quarentena e, posteriormente, para a fila. Nessa leitura preliminar, já teria conferido antecipadamente o texto da Amanda em Primeira Pessoa, que é justamente o que farei nesse exato momento. Aguardem, já volto.

...

Oi, pronto, voltei. Demorou mais do que eu imaginava, deu até tempo de passar outro café. É que fui ler o conto da Amanda e acabei, depois da leitura exploratória, conferindo mais alguns - não todos. Fui vendo a cara dos autores ao final do livro e me interessando pelo que aqueles rostos teriam escrito, qual seria o reflexo literário deles. O da Fabíola Gomes eu não li, pois ela é tão bonita que temi me apaixonar pelo seu escrito. O texto da Amanda, "Reflexo", é daqueles sobre o qual não dá pra falar nada que tu acabas entregando o jogo antes. É intimista e escrito em primeira pessoa, como o título do livro já revela sobre o seu conteúdo - todos os textos o são. Gostei, vale comprar o livro para conferir.

Achei interessantes também, dos que li, os textos de: Cátia Schamaedeck ("Jean Pierre", sobre um gato, nada a ver com o jogador do Grêmio), Denise Accurso ("Olhos verdes"), Dhuda Lobato ("Netuno", também com um gato, não o planeta ou o deus), Jeferson Haas ("Se você for perfeita"), Luan Nascimento Pires ("Olhe as estrelas"), Luísa Aranha ("O primeiro beijo"), Marina Mainardi ("Olhos de gato", bem engraçado), Marjory Kühn ("A longa noite de Diana"), Michele Vaz Pradela ("O monstro", impactante) e Yuri Rosa ("Um homem silencioso").

O sol forte da tarde já entra pela cozinha, tão agradável e lindo, acompanhado pelo vento. Olho para o filtro de pano do café secando na janela e vejo as árvores do pátio vizinho. Ao fundo, um pedacinho de uma nuvem e do céu azul. A vida é bela, como escreveu Leon Davidovich Bronstein em seu testamento. O que escrevemos, muitas vezes, nos reflete.


Notas:
(1) - A 66ª Feira do Livro de Porto Alegre está ocorrendo, online e virtual. Iniciou dia 30 e vai até o dia 15. Todavia, para mim, um cara analógico da segunda metade do século XX, não é a mesma coisa. Mas é o que se tem, né? Vivamos o presente!
(2) - Sempre falo da cidade do artista só para localizá-lo, pois um artista é do mundo, sempre, mesmo que sua obra possua temática particular ou universal. Assim, a Amanda Santos é uma artista local e do mundo, como todas.
(3) - "Feira do Livro com chuva em Porto Alegre": https://souzaguerreiro.com/visualizar.php?idt=6789083