Oniro & Larri, dois lutadores classistas

Tem gente que vai muito tarde e tem gente que vai muito cedo, não importa a idade. Tem gente que a gente conhece de perto e tem gente que a gente conhece de longe e se identifica como se fosse um artista, uma referência, coisa assim. Conheci o Oniro Camilo  - de branco na foto acima - através do Larri Oliveira Lopes - de camisa xadrez -, que era diretor do Sindimineiros do qual ele era presidente. Foi durante as lutas contra as reformas liberais do Temer, a trabalhista e a previdenciária, em atos aqui em Charqueadas e em Porto Alegre.

Logo de cara vi que o padrão ali era alto, tanto comprometido quanto qualificado, o pessoal tinha conhecimento do que era importante em termos de defesa da classe trabalhadora e tomava a iniciativa de ir pra luta. O Larri eu já conhecia há um tempo, cara tri gente boa, sabia muito de rock e possuía consciência política classista, conversávamos muito ali na Banca do Povo ou na Lancheria da Rodoviária, convergíamos na visão política, na música e no futebol: éramos um gremista e um colorado simpatizantes do Sampaio Corrêa, com camiseta oficial e tudo. E como o Larri era do movimento sindical comecei a acompanhar seu Face para saber das atividades contra as reformas em Porto Alegre e participávamos das articulações de nossas categorias com as demais da cidade para ações aqui durante esse período triste de derrotas para a classe trabalhadora, principalmente a reforma trabalhista, um retrocesso de décadas para o mundo do trabalho assalariado.

E, através do Larri, tomei conhecimento do gremista Oniro Camilo e do grande potencial da liderança dele. Era presidente estadual da Nova Central Sindical dos Trabalhadores - NCST. Passei, naquelas lutas, a tomar o trabalho deles por referência, porque era muito bom. Inclusive eu usava nas atividades uma camiseta preta onde mandei gravar o cartaz da NCST contra a reforma da Previdência. E então acompanhava os perfis deles no Facebook, vez por outra recebia coisas e trocava ideias pelo messenger, com os dois, mas bem mais com o Larri, pela proximidade. Acabei indo num evento em Butiá que eles organizaram pelo Sindimineiros, o I Seminário Interestadual sobre as reformas Trabalhista e Previdenciária, realizado dia 6 de outubro de 2017 no Parque de Exposições Assis Almeida. Excelente. Recordo da qualificada palestra de José Reginaldo Inácio, da CNTI, que mostrou de forma precisa o quadro futuro pós reforma trabalhista para a classe trabalhadora.

E assim a vida seguiu, até que o Larri faleceu em julho do ano passado, aos 59 anos. Uma perda pra Charqueadas e pra luta sindical, sem dúvida. Foi muito cedo, bah, cedo demais, tinha muito ainda a contribuir. Seu irmão acabou dando para mim as revistas Rolling Stone dele, estão aqui em casa, guardo com carinho e interesse intelectual, uma coleção muito boa pra quem curte rock. Esse ano veio a pandemia e todo mundo teve de se aquietar por casa, para proteger a vida e a saúde, o que, dentre várias outras coisas, comprometeu a possibilidade de encontrar o pessoal nas lutas classistas. Então ontem, pelo messenger, o Sérgio Oliveira me avisou que o Oniro havia falecido, aos 58 anos. Outra baita perda, enorme perda, igualmente cedo demais. Já sabia pelas redes sociais que era candidato a vereador em Butiá pelo PDT, partido - como nome deixa claro - do campo democrático e trabalhista. Com certeza, se eleito, cavaria outra trincheira pela defesa dos direitos dos trabalhadores, dentre outras coisas.

Todo mundo que morre é uma perda para seu círculo de familiares, amigos e colegas. Outros transcendem isso pelo seu papel na luta política e social e esse era o caso do Oniro Camilo. Todo mundo que é de alguma forma ligado com as demandas classistas dos trabalhadores na região, no estado e no Sul do Brasil e conhecia a liderança dele sentiu a perda e sabe que ela é grande. Oniro era um dos atores e das referências dessa luta.

O Larri e, agora, ele, dois lutadores classitas. Cedo demais. Fazem e farão falta. 


Texto de 06 agosto 2019: Larri "Sampaio Corrêa" Lopes https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6713874