FILHO DE PEIXE PEIXINHO É?

Foram muitas as vezes que ouvi alguém dizer: “ só podia ser, filho de peixe peixinho é!”

Dentro da família do meu avô, todos os descendentes de um dos tios dele ficaram estigmatizados. Qualquer coisa que acontecia, por mais banal que fosse, alguém logo falava: ora, da família do tio… só podia dar nisso.

Voltando a falar das oficinas, agora na condição de sócio proprietário, tive muitas experiências positivas e negativas na questão da contratação de mão de obra.

Tomei alguns prejuízos em consequência da falta de honestidade, misturada com a ignorância, talvez mais ignorância, por parte de pessoas que contratei.

Tive também a alegria de ter ensinado o ofício a alguns.

Um menino, desses que ensinei, foi causa da minha reflexão e compreensão ( não de agora) sobre esse dito “filho de peixe peixinho é”, pode até acontecer de ser, mas afirmar que é, no sentido que é usado, é um erro, é injustiça com muitos.

Não me recordo sobre a contratação daquele menino, mas foi um acerto difícil de se igualar. A educação que ele possuía, uma simplicidade, uma determinação, uma impressionante capacidade para compreender as coisas de modo geral.

Dava pena ver como ele ficava envergonhado quando o pai dele aparecia lá na oficina. Não, não se tratava do filho ter vergonha do próprio pai, o pai é que, pelo seu modo de agir diante de todos, violento, desonesto, o deixava muito constrangido diante de nós.

Se fosse valer o ditado, e aquele homem fosse o peixe, aquele menino poderia ser qualquer criatura do mundo animal, mas peixinho ele não seria de forma alguma. O filho não tinha nada a ver com o pai.

Ele se tornou um grande profissional e um amigo.

Encontrou seu caminho na grande indústria.

Mudei de profissão e de cidade, foram trinta e tantos anos sem notícia.

Depois de algumas tentativas em vão, neste final de semana encontrei o perfil dele no Facebook, deixei uma mensagem; depois de horas ele me respondeu e sua primeira fala foi essa: José agradeço a vcs pelo início dessa profissão (copiei e colei).

Na genética, filho de peixe sempre será peixinho, mas na questão comportamental que dá sentido ao dito, não pode ser considerado válido.