UM ANO ESPECIAL AQUELE
Pensei em começar escrevendo falando sobre aquele ano que foi atípico, mas me lembrei que dois mil e vinte sim é um ano atípico.
Então vou dizer que aquele ano de 1966 foi ano especial.
Começa pela mudança radical na minha vida e da minha família.
Naquele seis de março, saímos amontoados junto com a mudança em cima de um caminhão rumo ao desconhecido, à metrópole paulistana, à cidade de Santo André.
Nosso embarque foi à tarde e a nossa noite foi passada parados em uma enchente na cidade de São Caetano do Sul.
Para nós crianças até parecia divertido, novidade demais. Imagino como foi para a minha mãe no nono mês de gravidez do seu décimo primeiro filho, que nasceu dois dias depois.
Foi um ano diferente sim, não pela nossa situação em si, mas pela quantidade de chuvas que ocorreu. Muitos anos depois tomei conhecimento de uma grande tragédia no Rio de Janeiro por conta das chuvas daquele ano.
Falo sobre o clima porque contou muito na nossa recepção e adaptação ao novo lugar.
A nossa casa era a última da quase desabitada avenida, a última do bairro, o asfalto estava distante de lá uns três quilômetros, o caminhão chegou ao lugar com correntes nos pneus e muito sacrifício.
A casa era seminova, tinha azulejos, pisos cerâmicos e persianas nas janelas, nunca tínhamos visto nada disso.
Lado a lado com a Mata Atlântica, o dia intercalava neblinas cegantes, garoas, raros lampejos de sol. O meu olhar se deliciava na imensidão de quaresmeiras (Manacás -não sei) floridas. Ainda não existiam favelas naquela região.
Tempos difíceis, marcantes e instrutivos. Não caberiam nesta pequena e humilde crônica.
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