“Qual o sentido da Vida?”

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-"Qual é o sentido de nossas vidas?" - me pergunto agora passados mais de meio século da minha. Que sentido teve ou terá? Sinto-me realizado, frustrado, decepcionado, ou satisfeito, feliz e sem arrependimentos. Não sei? Passamos toda ela na busca de algo. O que?

Quando menino, essa questão era uma incógnita e sem sentido a sua preocupação, sem necessidade de respostas. Claro, nosso mundo era só de fantasias, brincadeiras, ilusões. Ótimas ilusões que alimentavam nossa imaginação e alma. Pensávamos ser invencíveis! O mundo e a vida passavam ao nosso largo, não era real. Vivíamos alimentados de heróis. Adoro as crianças, elas me alimentam até hoje!

Depois, adolescente, comecei a perceber que esse sentido iniciava a se manifestar nas responsabilidades a assumir, o que ser, a profissão, o descobrimento de que ela teria que ser igual à de todos! Nossos heróis começavam a ser menos imaginários e caiam na mesmice. Época de se tornar adulto, se formar, arrumar um emprego, casar, ter filhos e ser felizes para sempre! Um filme! Nosso roteiro pré-escrito.

A ansiedade começou a se manifestar na procura de que e para que tinham estes valores importância. Percebi quão rebelde era por achar esses dogmas e condicionamentos sem significância. Estava enclausurado, preso a ter que cumpri-los. E fui obrigado a segui-los em consideração aos meus pais, que muito esperavam de mim. Não podia decepcioná-los, mesmo que me decepcionasse.

Talvez por manter a mentalidade infantil de moleque até hoje, naquela época, não aceitava muda-la. Hoje, vejo que ela é uma força que me mantem invencível! E faz sentido.

Formei-me engenheiro, mas sabendo que não era a minha aptidão - sempre fui péssimo em números e raciocínio lógico. Estava aceitando e me entregando, deixando-a me levar, a vida, sem me preocupar com essa questão. Continuava sonhador e ansioso para ver o que aconteceria, como qual final o meu filme teria.

Casei e ao mesmo tempo montei empresa de engenharia! Época nada fácil, mas como sempre fui desafiador e competitivo - muitos me falavam que era loucura iniciar negocio e filho junto, nasceu o 1º. na mesma época da fundação da construtora, segui com a minha rebeldia de sempre, tendo assim um sentido esse empreendimento. Desafiador!

Depois veio o segundo filho, e esses dois seres, me deram um significado, sentido e razão de viver, uma coisa mágica, a vida nascer e florescer da junção de duas pessoas. Maravilhoso. Mas a questão, apesar de já ter achado um significado, ainda me mantinha ansioso, pois ainda não sabia o que seria ou como encontraria sentido em viver. Talvez essa questão não tivesse resposta.

Depois, os acontecimentos que me derrubaram, talvez pela visão infantil e romântica de que algo aconteceria e que tudo seguiria seu caminho ilusório e daria certo. A questão da sociedade, a relação com o amigo sócio que redundou na separação e derrocada da empresa, como a da minha mulher, saindo de casa na data dos quinze anos de meu filho mais velho! Atitude que até hoje tenho enorme remorso, acreditando que lhe causei transtornos na sua personalidade por isso! Se pudesse voltar no tempo, mas a historia já está escrita, não mudará jamais! Desculpe meu filho, de coração e amor pelo erro de seu pai.

Segui na procura, mas ainda com aquela visão romântica de que alguma coisa aconteceria comigo, com a ansiedade correspondente do que? Continuei a ser engenheiro, agora empregado, novo relacionamento com uma mulher parecida comigo em espontaneidade, alegria, mas com personalidade forte, alemã, e que foi uma batalha para que ficássemos juntos, pois ficamos dez anos no primeiro relacionamento, separamos por seis anos, e agora faz três anos nosso recomeço. Envelhecemos e percebemos que a vida solitária é péssima! Mas o que importa é nosso sentimento, o amor que temos um pelo outro, faz sentido.

Houve um tempo em que comecei a pintar quadros, influenciado pela minha mulher na época de casado, ela tendo aulas, eu autodidata - sempre desenhei, mas nunca pintara a óleo, e assim, dediquei-me à pinta-los influenciado principalmente por Van Gogh pelas suas inusitadas e maravilhosas pinceladas de cores fortes, demonstração da sua personalidade rebelde, mas doentia. Cansei de seguir os padrões, e como tinha sobras de tintas na empresa, comecei a pintar telas enormes com elas, muito parecidas com as de Jackson Pollock. As pessoas que vinham à minha casa viam as telas e gostavam espontaneamente, as dava de presente. Esse era o sentido de pintar!

Agora, a escrever faz ano e meio, montando o blog para compartilhar as historias causos, acontecimentos de minha vida e das pessoas, do dia a dia, enfim, um legado que me faz ter algum sentido e satisfação ou recompensa em sensibilizar as pessoas. Faz sentido, acredito!

Estou mudando em definitivo para Floripa, assumindo a minha aposentadoria da engenharia e de engenheiro que fui, pois na expectativa romântica que sempre tive e tenho até hoje, pela oportunidade que meu filho mais novo arquiteto me proporcionou em trabalhar com ele neste ano que passou, de que poderia enfrentar este novo desafio como antes. Não foi possível! Percebi e constatei que minha resiliência às situações de estresse causadas pela atuação nas obras com clientes, empreiteiras se extinguira, como a saúde física e mental, as manias, as rabugices que adquirimos e que são imutáveis, me fizeram admitir e aceita-las. Não fazia mais sentido em seguir esse caminho. Mas a atitude, carinho e estimulo que meu filho me deu, sim teve muito sentido. Obrigado meu filho querido.

Depois deste pequeno desabafo, talvez causado pelo nosso espírito natalino, onde ficamos mais bondosos, compreensivos, sigo na expectativa do que virá, e quem sabe, encontrarei o que procuro. Faz sentido!

Feliz Natal e ótimo 2020 a todos!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 27/09/2020
Código do texto: T7073868
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