PASTEL E GENTE BEM
O Clube do Camelo sempre gostou de musicar fatos curiosos que aconteceram conosco em nossas andanças musicais.
Assim é que, sempre que possível, reunimos em nossas casas, nas de amigos, nas de não tão amigos, apenas conhecidos que nos convidam para tocar, cantar, mostrar nossas composições e no evento comer e beber dos acepipes que nos são oferecidos.
Dessa forma aconteceu com o Edyr Proença no “Pagode em casa de gente bem” cuja música infelizmente se perdeu, mas cujo fato felizmente consegui lembrar e registrar no livro “É do Camelo...”, publicado pela Universidade Federal do Pará em 2002.
Não perdi tempo no episódio do pastel, em 2015, fazendo logo uma letra de música e salvando junto com minhas outras letras até que chegasse a inspiração da melodia.
Revendo minhas letras, senti que já se tinham ido quatro anos e até o momento a ideia continuava carecendo dos acordes e notas. E antes que se perdesse, como aconteceu ao pagode, resolvi colocar música, embora a letra não fosse nenhuma obra literária, mas era um registro histórico memorável de nossas presepadas.
Assim, depois que o Constantino se foi, sentimos saudades do “pastel de vento” que ele levava pros nossos encontros, até que encontrei um pastel folhado, na padaria perto de casa, que nada ficava a dever às mais finas iguarias culinárias. Sempre estava macio quentinho e crocante e passou a integrar nossos rebus.
Tive que fazer um ajuste na letra para adequação à música sem perder o fio da meada da história.
Originalmente a letra era assim:
CORDEL DO PASTEL
(Almir Morisson)
No principio era sagrado
Toda quarta reunia
O camelo se esforçava
Pra botar o samba em dia
Depois não sabia quando
O certo é que reunia
Aí que foi descoberto
O pastel da padaria
Saudade da ventania
Que o dito do Costantino
La no recheio trazia
Foi então que apareceu
Reunindo qualquer dia
Grupo mais chique e elegante
Mostrando sua galhardia
Acontece que o camelo
Pra seresta também ia
Cada um levava prenda
Pra comer na confraria
Foi então que deu saudade
Do quitute da Maria
E um dos camelos levou
Contente a tal iguaria
Mil pasteis bem tostadinhos
Pra consumir na folia
Só o que ninguém contava
Era que lá no sarau
O pastel nada valia
Foi terminando o rebu
E o pastel não aparecia
Era só sushi servido
Com um chá de maresia
Que reforçava a moral
E os nervos enrijecia
Nem mesmo o refrigerante
Levado com tanto gosto
Na mesa o garçom servia
Era só o chá e suco
Que pra nós aparecia
É que o tal pastel de pobre
La na mesa não podia
Eram só salgados finos
Que tinham mais serventia
Ou então a cozinheira
Que do riscado entendia
Separou o tal quitute
Pra comer no outro dia
No fim a festa acabou
E ficou a garantia
Que pastel e tubaína
O camelo nunca mais
Pra seresta levaria.
Fica só no milagre mesmo, que o santo pode ficar zangado, ou talvez nem saiba do acontecido.