7 de setembro de 2020, dia de luto nacional

Nascemos de uma mulher, somos amparados por uma família, crescemos em nossa rua, vivemos em nossa vila e somos da nossa cidade, da nossa região, do nosso estado, do nosso país, do nosso continente e, por fim, somos, de fato, cidadãos do mundo, pares de todos os demais seres humanos desse planeta mãe. Assim, nossa pátria é nossa mãe, nosso pai, nossos irmãos, parentes, amigos, vizinhos, conterrâmeos, enfim, todas as pessoas do mundo, pois nossas dores e alegrias são comuns a todos os demais seres humanos, seja qual delas, com esses, partilhemos.

Todavia, nossa nação é, num sentido mais amplo do que nossa mãe e mais estreito do que o planeta, a nossa pátria. Nela, comungamos uma mesma língua, cultura, costumes, história e território. Nossa pátria, portanto, são as pessoas e o chão sobre o qual temos autonomia e identidade política, enquanto cidadãos eleitores e contribuintes. No nosso caso, esse país a que chamam Brasil - nome de uma árvore de cuja madeira estraíam uma tinta de coloração vermelha -.

O Brasil é a nossa pátria, mais que nossas mães, mais que Charqueadas, mais do que a Região Carbonífera e muito mais do que o Rio Grande do Sul com o qual a maioria de nós se identifica num sentido pátrio, como gaúchos que somos. Entretanto, o ser gaúcho - que nos identifica - nos limita, enquanto o ser brasileiro nos identifica e nos amplia no mundo, nele nos inserindo. Então, cidadãos do mundo que somos, nele somos reconhecidos como os brasileiros, os oriundos desse pais, dessa pátria. Com as pessoas nele igualmente nascidas compartilhamos nossas dores e alegrias, pois elas são fruto das decisões que tomamos ou que delegamos ou consentimos a outros brasileiros.

Ontem, dia 7 de setembro de 2020, comemoramos mais um Dia da Independência. O então príncipe Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822, tendo parado às margens plácidas do riacho Ipiranga a fim de se "dobrar aos desígnios da natureza" - uma diarréia - e dar água para as mulas sobre as quais viajava sua comitiva, teria dado o famoso brado retumbante: 'Independência ou morte". Comungamos uma mesma história e, por ela, hoje somos independentes. A morte física, nosso destino, nos ronda, enquando seres humanos. Nos dias atuais mais ainda, interrompendo em grande escala, no tempo e no espaço, a normalidade do ciclo vital de muitos, de maneira inédita nos últimos cem anos posteriores à pandemia da Gripe Espanhola, mal que igualmente nos lembrou como agora que, de fato, somos cidadãos do mundo, mesmo que, nele, brasileiros.

Mas a independência de cada país faz com que cada nação reaja sobre as coisas do mundo - que a todos atingem - de forma particular, e o Brasil está reagindo à pandemia da forma como está e, junto com Estados Unidos e Índia, é o país onde mais pessoas morrem vitimadas por Covid-19 no Planeta Terra. Isso mostra que, assim como esses países e diferentemente de outros, nossas escolhas foram as erradas, eis que a manutenção da vida é o certo e a promoção da morte é o errado.

Dom Pedro não bradou "Independência E morte", mas sim "Independência OU morte". O papa Francisco disse que somos seres humanos, não seres econômicos, e que a vida humana é priopritária porque é o nosso corpo, e não a economia, o templo do Espírito Santo. Logo, quem prioriza o poder e o dinheiro em detrimento à vida humana não vive o amor de Deus, o amor cristão. Não é pró Cristo, é anti Cristo.

Escrevi os parágrafos acima para sustentar a afirmação de que 7 de setembro de 2020 foi um dia de luto para todos nós pelos 126.960 brasileiros e brasileiras que morreram, até agora - em quase seis meses -, vítimas da Covid-19 em nossa pátria, como bem ilustra a charge do ótimo artista Tonho Oliveira. Um dia de luto para refletirmos: Estamos no caminho certo? Estamos priorizando a vida humana? Estamos protegendo a vida de nossas mães, pais, filhos, irmãos, familiares, amigos e conterrâneos? Estamos priorizando o amor cristão? Estamos conectados uns com os outros e com Deus? Estamos construindo uma pátria amada mãe gentil? Estamos compartilhando alegrias por meio de nossas decisões?

Cuidem-se. Fiquem em casa, fiquem com Deus.