"TÁ LÁ O CORPO ESTENDIDO NO CHÃO"
Obs: escrevi essa crônica na época, achei muito triste, fato deu não tê-la publicado até agora.
“Tá lá o corpo estendido no chão”, verso muito conhecido de um samba, onde é retratado o corre-corre de todos indiferentes a tudo.
Samba esse que tantas vezes cantamos nas cachaçadas, farreando como se esse verso fosse uma simples piada.
Tá lá um corpo estendido na areia. Tá lá a água com todas as suas virtudes, convertida em assassina.
Dói demais olhar. Dói demais pensar. Dói muito ter que compreender sem entender. Dói profundamente o coração de um avô de um menino da mesma idade, de uma semelhança impressionante, roupas, sapatos, corte de cabelo (menino sírio que se afogou em uma praia na Turquia).
Joguei a minha interrogação pra Deus. Não ouvi nenhuma voz, nenhuma mensagem eu li. Na minha memória vieram os primogênitos do Egito. Vieram os recém-nascidos de Belém, vítimas de Herodes. Não sei se compreendi bem essas histórias, não sei também se as aceitei completamente.
O que compreendo muito bem é essa potentíssima engrenagem, dessa moenda doce e cruel, que vai levando tudo e todos, misturando matérias, reciclando comportamentos, destruindo e construindo.
Até por não ver outra saída, sempre alimento a esperança de que cada produto que sai desta poderosa máquina, seja melhor do que os de antes, e estes produtos que vão saindo, inevitavelmente irão alimentar essa moenda em busca de aperfeiçoamento, até um fim imprevisível.