TIVE SORTE!?
Não era novidade para mim caminhar no centro velho de São Paulo depois da meia noite. Muitas foram as vezes que cheguei de viagem na rodoviária antiga, situada na Praça Júlio Prestes, depois do horário do último trem de subúrbio, quando então restava apenas a opção de tomar o ônibus no Parque Dom Pedro II.
O percurso Rodoviária/Parque D. Pedro, quase sempre eu fiz a pé, pois o dinheiro era bem pouco e contado, ir de táxi só esporadicamente.
Sair da rodoviária, atingir a Av. Mauá, ao lado da Estação da Luz, chegar na Florêncio de Abreu, seguir até a Av. Senador Queiroz, entrar na 25 de Março e findar no Parque D. Pedro, a uma hora da manhã, era bem tenebroso já naquele tempo.
Era um final de semana prolongado e eu já estava com a passagem do ônibus para o 0:45hs. Da madrugada daquele sábado. Saí de casa para o trabalho naquela sexta-feira, preparado pra seguir direto do serviço para a rodoviária.
Terminado o dia, seis da tarde, tempo demais pra esperar. Junto com meu amigo de trabalho, rumei para São Bernardo. Fomos até o bairro onde ele morava e ficamos em um bar, comendo e bebendo até próximo das dez da noite, quando então tomei o ônibus e na estação de Santo André, o trem para São Paulo. Dormi no trem!
Depois de um dia muito bem trabalhado, depois de sei lá quantas cervejas, entrar no trem e ficar em pé seria uma grande sabedoria, infelizmente ela me faltou. Acordei com o trem parado na estação Jaraguá, não deu tempo de descer. Perus, foi onde fiquei.
Não sei como é Perus hoje. Naquele dia há aproximados quarenta e cinco anos, quase nada eu pude ver.
Esbarrando na meia noite, não havia trem nem ônibus pra lugar nenhum. Hotel eu não sei, mas não existia o dinheiro pra pagar. A estação e uma rua com poucas luzes acesas, era só o que eu enxergava. Fiquei um tanto desorientado.
Surgiu um táxi não sei de onde, parou bem perto, corri e me assustei com o preço que ele me pediu e por ele me dizer que de forma alguma conseguiria chegar na rodoviária em tempo deu tomar o ônibus.
Disse a ele que não tinha como pagar aquele valor, ele ficou pensativo por um tempo enquanto eu aguardava na expectativa que ele fizesse alguma coisa por mim; nesse meio tempo apareceram duas pessoas, a minha memória insiste que era um casal, dizendo que precisavam ir para o centro de São Paulo. Combinamos a corrida, eu paguei a metade. Como não haveria como chegar em tempo na rodoviária, pedi para ele me deixar no posto policial rodoviário bem no início da Via Anhanguera.
Pedi e o Policial Rodoviário, que faço questão de escrever com letras maiúsculas, parou todos os ônibus que iam para a minha cidade de destino. O meu ônibus passou pouco antes das quatro horas da manhã. Atrasos eram muito comuns nessas datas prolongadas.
Como é que eu vou deixar de acreditar no meu Anjo da Guarda?