MINHA COZINHA AZUL


Sim, era mesmo azul...
 

No início de 1984, Celso e eu estávamos mobiliando o pequeno apartamento onde iriamos compartilhar uma vida em comum pelos próximos trinta anos. Estávamos apaixonados e percorríamos as lojas de móveis e eletrodomésticos de mãos dadas, fazendo pesquisas de preços e contas para ver se os itens desejados cabiam em nossos limitados salários e recursos poupados. Nosso sonho de consumo nem era uma cozinha de grife, como a Kitchens, porque valia muito além de nossas posses e não combinaria com a modéstia da morada.

Os grandes comércios populares da época, que não eram Lojas Bahia nem Magazine Luiza, ofereciam as Cozinhas Todeschini, basicamente, módulos de madeira pintados de branco e com portas revestidas em fórmica, nas opções vermelha, amarela e azul. Não simpatizei com o vermelho e o amarelo por serem muito fortes. Optei pelo modelo azul e compramos mesa, cadeiras, geladeira e fogão que estavam em moda na época, para compor o mobiliário. Depois de tudo entregue e instalado, ficou um conjunto bonito e confortável. Atualmente, eu acharia bem cafoninha, porém não havia a variedade de modelos e materiais que existem hoje. Para completar a decoração fiz uma romântica cortina de renda, fininha e delicada.

Qual o interesse em escrever sobre uma cozinha?... dirão os leitores. Apesar do tema banal, teve grande significado para mim que ali vivi momentos de felicidade. Aprimorei minhas habilidades culinárias, compartilhei com meu companheiro cafés da manhã, almoços e jantares de conversas inspiradoras e de grande aprendizado para ambos.

Celso gostava de ajudar no preparo dos alimentos e a maioria dos pratos era finalizada a quatro mãos. Aprendemos juntos a fazer um excelente cuscuz, e o pudim de sorvete de chocolate, receita difícil, ganhava elogios dos convidados. O Camarão ao Catupiry servíamos em panela de cerâmica decorada, sobre um réchaud de metal... em grande estilo. E a sobremesa de morangos cobertos com calda de açúcar e claras em neve? De dar água na boca...

Fazíamos também a Bolacha Protestante, de cujo nome não sei a origem. Receita antiga que recebemos de sua tia Cassídia

Depois de trinta anos naquele local, nos mudamos para outro apartamento, maior e mais confortável, mas a vida passada naquele endereço deixou saudade, boas reminiscências e grande aprendizado. Hoje tenho uma cozinha maior, mais moderna e bem equipada porém não vou esquecer a primeira, aquela azul, que deixei intacta quando vendemos o apartamento. O novo morador deve ter trocado por outra mais atual. Uma pena porquê, se falasse, teria muitas e boas histórias para contar.

Celso já faleceu. Assim é a vida! E boa ou má é o que fazemos dela...




 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 19/08/2020
Reeditado em 20/11/2024
Código do texto: T7040471
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