O Destino da Gordura
Outro dia li uma notícia sobre o destino da gordura perdida durante um regime para emagrecer. Assim como a maioria das mulheres da minha idade, falou em emagrecer, chamou minha atenção. Não sou necessariamente fanática ou histérica nesse assunto, mas sei que se não der importância ao meu peso, logo estaria muito mias gorda do que gostaria. Logo voltarei à questão do destino da gordura. Da infância até os 30 anos, mais ou menos, não precisava me preocupar muito com o peso,. De natureza magra e alta, ainda que boa de garfo, conseguia perder rapidamente os quilos que involuntariamente somava. Acho que sempre gastei muita energia, então era fácil. Naturalmente, com a idade, meu metabolismo mudou e perder quilos se tornou bem mais difícil. Outro fato que sempre me fez ficar alerta é que me casei com um homem que, àquela altura, era muito magro e eu não queria que o par chamasse atenção pelo contraste de peso. O tempo passou, o marido engordou – e ficou magro normal – e tornou-se um homem de meia-idade bem interessante. Pronto: o que deveria ser motivo de alegria virou preocupação. Homem interessante, mulheres interessadas, perigo à vista! Não que já tenha me dado motivos para me preocupar, mas todo cuidado é pouco. Quando a idade avança, especialmente para as mulheres, a questão da vaidade se torna mais presente – quando não toma conta de toda a mente delas. Eu me cuido razoavelmente bem – ao menos gasto bastante tempo e dinheiro com isso -, então fico tranquila na mesma medida. Mas o engraçado é que quando se inicia um processo de cuidar da aparência, quanto mais se faz, mais se acha que deve fazer, mais problemas se encontra e, incrível, mais gente se conhece que não tem esses problemas! É uma neurose mesmo.
Bem, todo esse preâmbulo para justificar porque um assunto como esse do destino da gordura perdida me interessou. De tudo que li, a mensagem retida foi que, ao contrário do que todo mundo pensa, a gordura perdida não é eliminada pelas fezes ou urina, nem pelo suor, mas que ela simplesmente desaparece no ar. No ar! Deve ser por troca de calor com o ambiente ou algo parecido com isso, mas os detalhes não me interessaram muito. De cara, pensei nas cartelas do remédio que tomei, “receitado” pela minha irmã, que deveria eliminar as gorduras pelas fezes. Detalhe: as gorduras do abdômen. Como uma substância pode selecionar no nosso sistema digestivo a origem da gordura que deve ser eliminada, não me pergunte. Gostaria de acreditar que existe um ser que, às portas do intestino grosso, peça as credenciais às gorduras que ali chegam. A senhora vem de onde? Glúteos? Aguarde ali naquela fila, por favor. Abdômen? Vá para aquela sala VIP, por favor, saída imediata, portão principal. Não demore, caso contrário terá que sair mesmo involuntariamente. E, atenção, procure não derramar qualquer líquido enquanto estiver a caminho, ok? Ou então, Abdômen? Aguarde naquela fila de prioridades até que a madame tome o medicamento hoje, por favor.
Dizem que tal medicamento é perigoso se tomado sem prescrição médica, mas, seja lá o que eliminei, e de onde veio aquilo, parece que não me fez falta, pois sobrevivi. Meu segundo pensamento foi: se a gordura perdida vai para o ar, então como é que ela pode ser tão visível quando está conosco e tão invisível quando nos deixa? Eu não me importaria se fosse o contrário. O único problema seria conviver com tanta gordura por aí. Olha aquele moço, que lindo! Onde? Ali, entre aquela gordurona verde e aquela gordura sem-teto, na esquina. É, seria melhor que ficasse invisível nos dois ambientes. E se a gordura vai invisível para o ar, possivelmente por troca de calor ou energia, por que então isso não acontece quando fazemos sauna? Ah, sei la! A outra coisa que pensei foi: tem tanta gente gorda que diz que não sabe por que engorda, já que não come tanto (ahã), então deve ser porque adquire a gordura pelo ar. Faz sentido. Tanta gente emagrece, a gordura sai por ai, e pode muito bem parar no abdômen ou nos glúteos de alguém, não? Vai saber! Só sei que fiquei com medo. Por precaução, vou manter distância de quem estiver fazendo regime. Da mesma forma, me aproximarei dos gordinhos desencanados.
Por fim, pensei que, se perdemos gordura pelo ar, talvez alegrias também estejam vagando por ai. Quem sabe, com sorte, resolvem parar nessas pastagens aqui. Trocaria, com prazer, alguns quilos de gordura pelo mesmo tanto de alegrias.
(9 Janeiro 2015)