Imagem - Arcebispos que assim a carta, dentre outros: dom Clãidio Humes, dom Edson Damian, dom Alberto Corrêa, dom Joaquim Giovani Mol, dom Zanoni Demétri Castro, dom Angélico Sandalo Bernardino, dom Erwin Krautler e dom Leonardi Ulrich.

Bispos e padres divulgam cartas avaliando combate à pandemia no Brasil

Duas cartas públicas, assinadas por mais de 1.200 líderes católicos, repercutiram muito nas últimas semanas. A primeira, "Carta ao povo de Deus", divulgada dia 26 de julho na coluna da jornalista Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, foi subscrita por 152 arcebispos e bispos; a segunda, "Caminhamos na estrada de Jesus", avalizada por 1.061 padres, diáconos, irmãos e freis, saiu em apoio à primeira. Em ambas, fortes críiticas à condução política do combate à pandemia de coronavírus no Brasil, dentre outros pontos.

Os documentos, mesmo com a representatividade que possuem, não expressam uma opinião oficial da Igreja Católica no Brasil, mas sim a de seus signatários. Entretanto, foram enviados à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - e ao papa Francisco. Trata-se, é mister observar, do posicionamento de religiosos sem vinculação partidária ou mandato eletivo, calcados na Doutrina Social da Igreja Católica e na exortação apostólica Evangelli Gaudium (A alegria do Evangelho), emitida pelo papa Francisco no final de novembro de 2013, ambas citadas nos textos.

Na carta dos bispos, podemos ler que "assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela COVID-19, tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino". Em certo ponto, pergunta: "Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?" E centra sua crítica no governo federal: "Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises". Vai mais além, incisiva: "O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma 'economia que mata' (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço".

Na carta dos padres, a tônica é a mesma: "Nós nos solidarizamos com todas as famílias que perderam alguém por essa doença que ceifa vidas e aterroriza a todos. Próximos de atingir 100 mil mortos nesta pandemia, é inadmissível que não haja neste governo um Ministro da Saúde, que possa conduzir as políticas de combate ao novo coronavírus." Em apoio a "Carta ao povo de Deus", salienta que a iniciativa de bispos e arcebispos "é uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual à luz da fé. É a confirmação da missão e do desafio permanente para a Igreja: tornar o Reino de Deus presente no mundo, anunciando esperança e denunciando tudo o que está destruindo a esperança de uma vida melhor para o povo."

Tais documentos, oriundos de segmentos da religião que aglutina o maior número de fiéis no Brasil, já nascem históricos, por firmarem uma posição clara durante um momento de extrema gravidade sanitária, e com certeza servirão de referência para muitos, religiosos ou não. Para aqueles que desejem acessar a íntegra das cartas, com a relação completa dos que as assinaram, deixo os links abaixo:

"Carta ao povo de Deus"https://souzaguerreiro.com/visualizar.php?idt=7020133

"Caminhamos na estrada de Jesus" https://souzaguerreiro.com/visualizar.php?idt=7024315