Passando fome em festas

Penso que não vou a festas há perto de vinte anos. E isto se deve a uma resolução radical que um dia tomei. Por isso não adianta me convidarem, não vou a festas, seja de aniversário ou qualquer outro tipo.

E não é por ser anti-social, pois gosto de eventos, como lançamentos de livros ou ir na Bienal apesar do sacrifício da jornada.

É que a certa altura compreendi a frivolidade das festas. Aniversário, por exemplo, não vejo razão para comemorar, a não ser comemorar o próprio ego. Os únicos aniversários que comemorei com festas foram meus pais que promoveram. Eu mesmo nunca dei festa alguma na vida, até por razões econômicas que também pesam, mas a razão principal é que festejos nunca me alegraram, até me deprimiram. Saí de vários com a amarga sensação de tempo perdido. Isto sem falar nos muitos dissabores que passei.

Outro detalhe é ter passado fome. Em geral apenas servem salgados e docinhos em pratos ou travessas na mesa. O que acontecia é que, após beliscar duas ou três vezes eu ficava envergonhado de continuar indo beliscar na mesa, temendo pensarem que eu era um glutão. E também via-me impossibilitado de beber, pois em geral só servem refrigerante, inclusive a horrível e inevitável Coca-Cola, e cerveja, coisas que eu não bebo.

No meu trabalho em certa época havia um colega que de vez em quando gostava de trazer uns salgados e refrigerantes e promovia umas festinhas no final do expediente. Nunca faltava Coca-Cola. Uma vez eu perguntei como se explicava isso, sendo a Coca-Cola um símbolo da dominação cultural norte-americana e ele filiado ao PT. Ele saiu meio pela tangente, dizendo qualquer coisa sobre tradição, que aquela bebida era tradicional em festas.

Precisamos manter tradições doentias? Assim eu penso sem ser petista, mas conservador anti-socialista.

O fato é que mesmo quando ainda trabalhava eu me mantinha fora de comemorações feitas no próprio local de trabalho, às vezes ia todo mundo para a festa e eu permanecia em minha mesa de trabalho, causando até algum espanto.

Mas é que a minha rejeição já se tornara questão de princípio.