Alegria de estar só

São várias as razões que fazem um homem se apaixonar por uma moto, todos nós sabemos. Velocidade, máquinas, liberdade, viagens, paisagens, amigos, etc. No entanto, me pergunto se também não tem a ver com o prazer de se sentir sozinho, apenas na companhia da moto, numa viagem dentro de si mesmo. Como sou só garupa, não saberei nunca, mas, para mim, faz sentido que a viagem de moto represente uma fuga dos problemas cotidianos, da realidade massacrante do cotidiano. E durante essa fuga, com o vento varrendo tudo o que é ruim, deixando para trás o que não se quer levar, é possível refletir, refazer, reprogramar, reinterpretar sua própria vida. Fugindo de tudo para encontrar a si mesmo. Será?

Não dá para comparar com uma viagem sozinho num carro. O ambiente fechado, os bancos vazios denunciando que deveria haver alguém ali, não sugerem uma solidão voluntária. Também um garupa na moto não necessariamente atrapalha a introspecção do piloto. O protocolo de uma viagem agradável pressupõe que piloto e garupa sigam em silêncio, cada um fazendo sua própria viagem. As paradas são reservadas às interações.

Como garupa, também aproveito as viagens para passar a limpo tudo aquilo que me atormenta. Mas o ideal seria deixar que o vento simplesmente carregue tudo o que for desagradável, deixando a mente receptiva apenas à paisagem que se abre a cada curva. Pela alegria dos pilotos, acho que é isso mesmo que acontece. Tomara!

(13 Janeiro 2016)

Anelê Volpe
Enviado por Anelê Volpe em 04/08/2020
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